quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O facebook de 2014

Parte 1
Os 20 acontecimentos de 2014 revistos pela estupidez criativa do Javali.
Gosto especialmente do nº 3.

 

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A ressaca de Natal

Dia 26 de Dezembro. 8:30.
Mateus acorda. Não sabe aonde está. Dói-lhe a cabeça. Olha em volta. O espaço não lhe é familiar. Está numa casa de banho. Dormiu no bidé. Levanta-se e olha-se ao espelho. Tem a marca da torneira gravada na testa. Ainda tem a mesma roupa que vestiu para a ceia de Natal em casa dos avós. Procura o telemóvel. Ouve cães as latir e gatos a miar. Os sons vêm de longe mas parecem perfurar-lhe o cérebro. Entra numa sala. Parece vinda de um filme de terror. Uma árvore de Natal tombada, sangue por todo o lado e duas pessoas. E o telemóvel. 383 comentários no Facebook. Só nos primeiros quinze chamam-lhe trinta e três vezes "filho da puta". Pousa o telemóvel porque as pessoas começam a mexer-se. A que estava deitada por cima da árvore de Natal está nua e tem duas bolas da árvore como brincos. É o seu primo Tomé. A outra tem as calças ensopadas em sangue e quando vira a cara, vê-se um esgar de dor. É o seu tio Zé.

Ao Tomé dói-lhe as costas. E não é de ter dormido em cima da árvore. Tem uma tatuagem ainda fresca por cima do cóccix. O desenho de uma rabanada e uma frase numa outra língua que ninguém percebe. Zé começa imediatamente a gritar. Abre o fecho das calças e só vê sangue. Grita que lhe cortaram a "gaita". Mas a "gaita" ainda lá estava. Faltava-lhe apenas o prepúcio.

- Que aconteceu? Como é que viemos aqui parar? - pergunta Mateus.
- Acordaram! - diz um senhor asiático acabados de entrar na sala. - Bem-vindos ao talho do restaurante "Ho Chi Min". Os senhores preferem ser Chau Min de Galinha ou de Porco?
- Chau quê!? Quem é o senhor? - Tomé está ainda mais aturdido.
- Sou o vosso dono. Chef Lee.
- Dono? - pergunta Tomé, ainda a gemer.
- Sim, a vossa família vendeu-vos a mim depois do Natal. Para grelhados. E vocês vieram de livre vontade. Não se lembram do que aconteceu?
Os três entreolharam-se. Não estavam a perceber nada. Chef Lee começou a explicar.

"Aqui o nosso amigo nudista decidiu começar a beber às 9 da manhã da véspera de Natal. Infelizmente, escolheu a tasca onde todos conheciam a sua avó Gina. E não pelas melhores razões. O Natal é a época de nostalgia e de união. Todos os presentes começaram a contar histórias dos bons velhos tempos em que se uniam à avó Gina. Entre eles, ela não era conhecida como avó Gina - era conhecida como a Mãe Natal, porque todos os dias oferecia anal. Isto abalou os sentidos ao Tomé. Isso o bagaço ao pequeno-almoço. Desvairado, saiu da tasca e procurou outro sítio para beber. Entrou em mais alguns, mas a dor das revelações acerca da avó Gina não diminuía. Já em inconsciência, entrou num estúdio de tatuagens e pediu para lhe fazerem uma em homenagem à avó Gina. Uma rabanada, a especialidade natalícia da senhora; tinha que estar na linha de visão dos homens que a possuíram, daí estar acima do cóccix; e com a frase, em árabe, "Eu gosto é de enrabanadas. Avó Gina". Chegou a casa da avó Gina em tronco nu, já com o jantar a decorrer, mostrou a tatuagem, e começou a cantar:
♫ É Natal, é Natal
   e a avó Gina já aviou
   toda a gente com anal. ♫"

"Já o 'prepúcios' tentou amenizar o ambiente com uma dramatização do presépio. Enquanto o nudista cantava, ele emborcava shots de uma garrafa de Porto que era para oferecer ao avô. Estava nervoso. A avó Gina tinha sido a sua primeira. Nada foi revelado, mas era tarde de mais. A cair de bêbedo, propôs a participação da família numa representação real do nascimento de Jesus. Os papéis foram atribuídos à família por lógica: o afilhado que tinha reprovado duas vezes no 2º ano era o burro; a prima de Setúbal era a vaca, bastava ver as fotos do Instagram; o irmão que trabalhava no Intendente era José, também ele não se importava de casar com mulheres que engravidavam doutros; a avó Gina era Maria porque, segundo o nudista, «no cu não conta»; o 'prepúcios' era o menino Jesus pois, também ele, gostava de se relacionar com meninos. A dramatização decorreu no quarto dos avós. Estava tudo a correr bem até que o menino Jesus decidiu mostrar o que aconteceu a seguir à visita dos 3 reis magos. Pediu à tia Jorgina para trazer a tábua dos queijos e a faca de trinchar o peru. No delírio do álcool, anunciou que Jesus era judeu e, como qualquer judeu, tinha que retirar a pele adicional do pénis. Colocou o seu entre o brie e a mozarela e cortou o prepúcio com a faca do peru. Era gritos e sangue por todo o lado."

"Tudo culminou aqui com o homem mais odiado das redes sociais. Para reuperar das afrontas destes dois, também ele bebeu mais do que a sua conta. Curioso é que conseguiu animar a restante família com alguns dizeres espirituosos contra o Governo. Eis se não quando começa o discurso do Primeiro-Ministro na televisão. Aqui o artista que já não via nem ouvia direito, decidiu tirar uma selfie a dar um linguado a Pedro Passos Coelho. Postou a foto no Facebook, Twitter, Instagram e Match.com, com a legenda: «Eu amo você.» Ninguém aguentava mais. Pedro Passos Coelho, beijos quentes e Nilton era o ultraje que nenhuma família conseguiria ultrapassar. Telefonaram para o canil e eu fui buscar-vos. Portanto, volto a perguntar:
- Os senhores preferem ser Chau Min de Galinha ou de Porco?"

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Contos de Natal por Realizadores Famosos


- David Lynch

Era noite de Natal. O Pai Natal distribuía presentes por todas as casas.
Apareceu um comboio: alfa pendular. Virou-se para a garrafa de azeite e perguntou:
- Então, isto é que é Marte?
Fim

- Quentin Tarantino

O Pai Natal desceu a chaminé. António, mais conhecido pelo nome de código Matracas, estava à sua espera. Os olhares dos dois cruzaram-se ao som de Al Green.
- António? Ou devo dizer: Matracas? Portaste-te muito mal este ano, não foi? E já sabes o que diz Samuel acerca disso. Capítulo 15, versículo 18: "Enviou-te o Senhor a este caminho e disse: «Vai e destrói totalmente estes pecadores [...] até exterminá-los." Toma a tua prenda.
Antes de cair um pingo de suor da fronte de Matracas, 78 balas perfuraram-lhe o abdómen, espichando sangue por todo o lado: presépio, prendas e árvore de Natal. O Pai Natal sai com ar de dever cumprido. Porém, ainda há vida em Matracas. Antes de entrar em coma, apenas um pensamento vai na sua cabeça:
- Vingança! Tenho que matar o Pai Natal.
Fim

- Michael Moore

Flint, Michigan. Dia 24 de Dezembro. As famílias americanas estão reunidas à mesa para celebrar o Natal. Perto da meia-noite, o Pai Natal pousa o trenó num telhado. Vai descer a primeira chaminé. Não consegue. Está demasiado gordo porque as grandes empresas, que dominam os políticos de Washington, obrigam-no a alimentar-se daquilo que está a matar a América: fast-food.
Fim

- David Fincher

O Pai Natal desce a escura chaminé. O cheiro daquela fuligem é familiar e não muito distante na sua memória. Quando leva às mãos ao saco para retirar os presentes, não os encontra. Sem saber o que fazer, repara que os presentes estão já junto da árvore. Alguém quebrou as regras do "Clube de Natal":
1ª regra: Só o Pai Natal distribui presentes no Natal.
2ª regra: Só o Pai Natal distribui presentes no Natal.
Quem se teria adiantado? Os duendes ajudantes? Rudolfo? Valentim Loureiro?
Não era possível! Eles não existiam. Será que também ele não existia?
Fim

- George Lucas

 Há muito, muito tempo. Numa chaminé de uma galáxia distante, estava Pai Natal. Esta chaminé era a última do seu planeta. Lord Gore havia instituído por todo o seu império que as chaminés não eram energicamente eficientes. Mandou eliminá-las. Isso significava que a chaminé onde Pai Natal se encontrava era rebelde. E a última. Para Pai Natal manter o seu emprego teria que eliminar Lord Gore. E assim aconteceu. No auge do combate num bloco de gelo da Antártida, Lorde Gore confessa:
- Pai, eu sou o teu pai!
- Mas só há lugar para um Pai: eu!
- Sim, mas um pai também é filho. E tu és o meu.
- Então porquê eliminar as chaminés? São o trabalho do teu filho!
- Porque pensei que passasses a optar pelas portas. É mais seguro e eu não queria que te magoasses.
- Oh, papá!
Lord Gore desiquilibra-se com o degelo provocado pelo aquecimento global e desaparece nas profundezas do oceano. 
Fim

- Stanley Kubrick

O Pai Natal desce pela chaminé. Na sala, um aglomerado de nudistas, apenas de máscara veneziana, esperavam-no:
- Com que então, a tentar entrar clandestinamente neste grupo secreto? Qual é a palavra passe?
- Não sei!
- Pois então vai sofrer as consequências. Katerina, Matilde, Ivanenka! Sentem-se ao colo do gordo!
Fim

- Woody Allen

O Pai Natal desce pela chaminé. Alvy Singer estava sozinho a ler Kirkegaard.
- Oh, não estava à espera que visitasse um judeu ateu. Apesar de desprezar tudo o que representa em termos sociais, respeito a solidão e mascarar-se em idade adulta. Quando a Annie me deixou eu fiz o mesmo. Não descer pela chaminé das pessoas, é claro. Um judeu no Natal só era o melhor presente, se fosse à mesa de Himmler. Disfarcei-me de escaravelho, como na Metamorfose de Franz Kafka, e fui para o Central Park, para mostrar que a solidão também ocorre em espaços abertos. Isso e porque pagar renda no Upper East Side é mais difícil do que fazer o Roosevelt correr os 100 metros barreiras.
Fim

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

SMS histórica XXVI

Antes de plasmar a teoria da gravitação universal, o médico aconselhou Sir Isaac Newton a levar o seu trabalho com mais calma. Aparentemente, facilitou-lhe o seu ofício:


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A minha primeira vez

Olá!
Venho por este meio mostrar um vídeo onde podem ver a minha primeira vez.
A fazer stand-up.
Na verdade, terminou como outra primeira vez: com nervos, vergonha, mas com mais roupa.
Convirá dizer que, qualquer semelhança com circunstâncias e pessoas reais é pura cena da minha cabeça.
Digam de vossa justiça.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

SMS histórica XXV

Segundo Shakespeare, Ricardo III terá proferido a sua famosa frase no final da batalha de Bosworth Field. Porém, a realidade é menos romântica. O rei inglês terá dito a mesma frase noutra batalha, também ela perdida - a do seu vício; e por SMS:


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

As técnicas de tortura da GNR


Ao ler a notícia aqui acerca das práticas de dentenção e interrogatório da CIA, verifico que a agência americana está a anos-luz do modus operandi da nossa GNR.

A CIA utilizou a privação de sono, levando os prisioneiros a falarem do que sabiam e do que não sabiam. Em Portugal, isso não é uma prática clandestina - é um programa de televisão. Chama-se "As escolhas de Marcelo.
A tortura mais conhecida é o waterboardind (em português, afogamento simulado), que consiste em mergulhar roupas em água e colocá-las sobre as vias respiratórias do prisioneiro, dando a sensação de afogamento. Algo semelhante ocorre no Meco. É facultativo, decorre ao fim de semana e chama-se praxe.
Outra prática mencionada no artigo é a alimentação e hidratação por via rectal. Tendo em conta que a maior dos prisioneiros são muçulmanos, com uma dieta à base de caril e picantes, acreditamos que seja uma prática dolorosa. Por cá, Manuel Luís Goucha chama-lhe pequeno-almoço.
Por último, fala-se da prática de deixar os prisioneiros em nudez completa durante 72 horas, levando frequentemente com jactos de água fria. A Marta Leite Castro chama-lhe terapia. 

Vejamos agora as avançadas técnicas da nossa GNR:

- Baralhar o condutor com linguagem formal
A maior parte do interrogatório por parte de um agente da GNR é executado através do tratamento do suspeito como prevaricador. E o suspeito nunca tem nome, é sempre o "Senhor Condutor". O agente pode ter visto 10 vezes a carta de condução mas nunca nos trata pelo nome. E quem diz formalismo, diz analfabetismo.

- A barriga como engodo
O GNR é conhecido pelo seu bigode, por ser bêbedo e por ter pança. A barriga incute o sentimento no condutor de que é sempre possível fugir; ou, pelo menos, de que é possível trocar a de multa por um saco de salpicões. A maior parte das vezes, é.

- Privação de água
A GNR pratica a privação de água nos seus agentes, sem contudo privá-los de outros líquidos mais graduados. Isto permite aos agentes uma desinibição maior aquando de interrogatórios, bem como um disfarce perfeito na integração em festas populares. Aliás, aquando da admissão à carreira militar na GNR, logo após os dados pessoais, o candidato tem que responder quantas vezes fez o programa dos 12 passos do alcóolico e quantas vezes falhou. O ideal é escrever: "Bêbedo és tu, ó boi do c*r*lho! Diz-me mas é aonde é que é o bar. Estou a ficar com sede."

- O jogo das escondidas
O programa de treino consiste, sobretudo, no domínio do jogo das escondidas, até porque é o único que os futuros agentes conseguem perceber. Depois, é só aplicá-lo na vida real e dentro de um carro: do lado de lá dos rails da auto-estrada, atrás do placard de saída para Moimenta da Beira, em cima de pontes, etc. Contudo, trata-se de um jogo em que só eles é que sabem que o estão a jogar. Os contudores são sempre apanhados em falso.

- A curva da estrada
Este texto não serve só para provar os avanços técnicos da GNR em relação à CIA. Serve também para mostrar que, para chegar a este nível, não aconteceu de um dia para o outro. Os GNR fazem isto desde que existem curvas na estrada e uma das questões que divide os académicos é saber quem aí chegou primeiro: os GNR's ou as prostitutas? Eu gosto de pensar que as práticas dos GNR são as mais ancestrais, até porque depois de privar com profissionais destes dois ofícios, quem é que costumamos achar que nos fodeu mais? O GNR, pois claro.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Música para oferecer à família neste Natal


Continuas sem saber o que oferecer no Natal? Não te chegaram as minhas propostas de livros aqui? Preferes que te dê música, então? Muito bem, aqui vai. Álbuns para oferecer aos membros da família.

Para a tia:
- que não se cala: Einstürzende Neubauten - Silence is Sexy
- freira: Air - The Virgin Suicides OST
- que vai no quarto casamento: The Who - Who's Next

Para o tio:
- que sofreu um acidente de viação: dEUS - The Ideal Crash
- que viveu os anos 80 como se não houvesse amanhã e apanhou HIV: Beastie Boys - Licensed to Ill
- padre: Depeche Mode - Violator

Para a prima:
- que vive para o bronze desde Janeiro mas apanhou uma rosácea no ombro: The Doors - Waiting For The Sun
- com poliomielite: Bruce Springsteen - Born To Run

Para o primo:
- que não usa desodorizante: Mão Morta - Há Já Muito Tempo Que Nesta Latrina o Ar se Tornou Irrespirável.
- hipster: Arctic Monkeys - Whatever People Say I Am, That's What I'm Not
- abandonado pela namorada: Hansdome Boy Modeling School - So... How's Your Girl?

Para a irmã:
- leviana: Pete Yorn - Music For The Morning After
- depressiva: Smashing Pumpkins - Mellon Collie And The Infinite Sadness

Para o irmão:
- em coma desde o acidente de surf: Marvin Gaye - What's Going On
- daltónico: Miles Davis - Kind of Blue

Para a avó:
- viúva: Arcade Fire - Funeral
- que fazia abortos em casa antes da legalização: Nirvana - In Utero
- com alzheimer: Nirvana - Nevermind

Para o avô:
- retornado e que tem uma neta que namora com um preto: Amy Winehouse - Back To Black
- que descobriu as maravilhas do viagra: Bruce Springsteen - The Rising

Para a mãe:
- que perdeu um filho num acidente de paraquedismo, experiência que lhe havia oferecido num pack Odisseias: Coldplay - Parachutes

Para o pai:
- pau mandado: Portishead - Dummy

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Livros para oferecer à família neste Natal


Ainda andas às voltas com as prendas de Natal para a família?
Não queres voltar a receber um olhar reprovador da tua tia, por lhe teres oferecido um perfume comprado num hipermercado?
Não queres a desilusão estampada na cara da tua mãe, por mais uma prenda que não tem nada a ver com ela?
Pois eu trago a solução, qual anúncio de televendas.
Este ano vais oferecer livros a toda a gente.
São prendas que podem ser adquiridas no mesmo local (desde que não seja num hipermercado, onde os livros vêm com cheiro a talho), cabem todas debaixo da árvore e ninguém vai fazer má cara a um livro.
Acontece que existem três tipos de pessoas no mundo: as que lêem, as que têm a mania que lêem e as que não querem admitir que não lêem. Portanto, trata-se de uma prenda vencedora à partida.
Vamos a isso?

Para a tia:
- recém-divorciada: de António Nobre
- depressiva: Suicídios Exemplares de Enrique Vila-Matas
- sobrevivente de cancro: Sorte de Alice Sebold
- gorda: Queres Crescer e Depois Não Cabes na Banheira de Miguel Castro Caldas

Para o tio:
- bêbedo: Pela Estrada Fora de Jack Kerouak
- que fugiu para Angola e deixou a dívida à tua tia: Crime e Castigo de Fiódor Dostoièvski
- que ainda pensa que é fixe e usa o casaco de cabedal de solteiro que já não consegue apertar: A Sombra do Que Fomos de Luis Sepúlveda
- molestador: Lolita de Vladimir Nabokov
- padre: Lolita de Vladimir Nabokov

Para o primo:
- toxicodependente: Pergunta ao Pó de John Fante
- invisual: Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago ou, como já deve ter por ser uma escolha óbvia, Nenhum Olhar de José Luís Peixoto
- desempregado: O Inútil da Família de Jorge Edwards
- órfão: A Mãe de Máximo Gorki
- estúpido: Sei Lá de Margarida Rebelo Pinto

Para a prima:
- prostituta: Amesterdão de Ian McEwan
- esquizofrénica: A Louca da Casa de Rosa Montero
- charrada: Folhas de Erva de Walt Whitman
- daltónica: O Vermelho e o Negro de Stendhal
- que tem um vídeo amador na internet: Os Quatro Grandes de Agatha Christie

Para o irmão:
- mais velho: 25 de Abril - Liberdade de João Malheiro
- mais novo: Não me F**** o Juízo de Colin McGinn

Para a irmã
- mais nova, em idade de pré-escola: Maddie 129 de Ernâni Carvalho
- mais nova, que acha que está em idade do desabrochar sexual: Rio de Sangue de Tim Butcher
 
Para a avó:
- trocada pela amante: O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu de Jonas Jonasson
- devota: Versículos Satânicos de Salman Rushdie

Para o avô:
- gingão: Memórias das Minhas Putas Tristes de Gabriel García Marquez
- rezingão: Dom Casmurro de Machado de Assis

Para a mãe:
- pacata: Agenda Doméstica 2015 de Maria Raquel
- traída: Os Homens Que Odeiam as Mulheres de Stieg Larsson
- adúltera: pack de 2 com Madame Bovary de Gustave Flaubert e Pudor e Dignidade de Dag Solstad

Para o pai:
- ausente: O Homem Sem Qualidades de Robert Musil
- adúltero: Brasil. Guia American Express

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Conselhos de um pai a uma filha


A minha filha mais nova fez ontem 5 anos. E é nestes momentos que penso: o que represento para ela? Por onde é que ela vai pegar quando fôr adolescente? Será que vai gostar kizomba?

Ela diz que quando crescer quer ser médica e cabeleireira. Ou seja, conhecer a anatomia ou ser conhecida pela sua anatomia. Mas eu não sou de julgar: o que ela quiser ser, será. Com excepção de stripper, toxicodependente ou política. Bem, toxicodependente não é bem profissão. E político conta mais como hobby do que ofício.

O que quero dizer é que não me importa muito o venha a ser. Apenas desejo que a minha filha seja melhor do que eu. E, devo dizer, não é preciso muito. Para isso acontecer, basta duas coisas: que não goste muito de pornografia e que tenha um emprego.

A primeira parece-me ultrapassada. Há duas semanas, abri um separador dos meus favoritos e coloquei em reprodução um vídeo soft com a designação "Mature meets black lover". Chamei-a à casa de banho para ela o visualizar comigo. A isto se chama de parentalidade em acção, que me deixou extremamente orgulhoso. Ela começou imediatamente a chorar e a pedir para que o senhor castanho parasse de magoar a senhora com a catana.
Já sei o que poderão estar a pensar e a resposta é sim às vossas duas dúvidas: Sim, ela tem 5 anos e é politicamente correcta: chama castanho porque sabe que é ofensivo chamar preto; Sim, sabe o que é uma catana porque possui um vasto vocabulário.
O que é certo é que, desde então, tenho perguntado se quer vir ver os vídeos do pai e ela começa imediatamente a tremer. Continua a preferir a Violetta, a princesa Sofia e a Casa do Mickey.

Quanto à questão do emprego ainda não foi consumado porque as leis do nosso país são muito castrativas. Depois ainda querem crescimento económico! Ando então a juntar dinheiro, com a mesada que os avós lhe dão, e a preparar uma viagem uma viagem. Ainda não decidi se à China ou se à Indonésia. Ambas oferecem oportunidades interessantes na área do têxtil. Creio que poderá ser concretizada já em 2015. Já estou a ver a cara dos meus amigos com filhos:
- A minha fez agora 23, acabou agora Gestão e está a trabalhar numa consultora em Londres.
- A minha terminou Química e está num laboratório nos Estados Unidos.
E eu:
- Ai sim? Pois a minha tem 5 e trabalha para o Cristiano Ronaldo. Faz-lhe as chuteiras e as camisolas!

Acima de tudo, desejo o melhor para o futuro dela. E para o presente.

sábado, 6 de dezembro de 2014

As escolhas de José Sócrates na prisão de Évora



Quisemos saber o que José Sócrates trouxe para a prisão e quais os seus ideais, no momento que enfrenta o maior desafio da sua vida, se não contarmos com a licenciatura.

Que filme trouxe consigo?
Não trouxe um filme; trouxe uma série: Prison Break. Já pedi as plantas da prisão ao João Araújo. A questão das tatuagens não será problema, já tinha uma entre o anelar e o dedo médio com as iniciais DI. Falta-me apenas conceitos de engenharia para entender as questões mais técnicas.

E livro?
Arte de furtar, um clássico português do século XVIII. Anda sempre comigo.

Qual o perfume que usa?
Neste momento, só sabão macaco, creio. Deixe-me perguntar ao meu colega de cela, que é ele que costuma aplicar-me. É esse, Jomané?

Comida predilecta?
Aqui dentro, só as entradas. Se tiver que escolher uma, talvez os croquetes.

Qual a música que tem ouvido?
Ouço frequentemente a Guilty da Barbra Streisand & Barry Gibb
Mas os restantes reclusos costumam cantar-me hip-hop, sobretudo aquela do 50 Cent, a Candy Shop. Sempre que passo nos corredores, começam logo:
I'll take you to the Candy Shop
I'll let you lick the lollypop.
Têm sido muito amáveis, ao contrário desses bandalhos dos jornalistas.

Qual o seu maior defeito?
Ser demasiado frontal. Aqui dentro têm-me dito isso. Dizem que não posso ser só frontal; tenho que também lateral, horizontal, etc.

E maior qualidade?
Sou extremamente flexível. 

Quem levava para uma ilha deserta?
Todos os portadores com uma carteira de jornalista. E a Manuela Moura Guedes. Eu não tinha que ficar lá com eles, certo?

Quem é o seu ídolo?
Sem dúvida a minha mamã. Tudo o que lhe dou ela devolve-me a dobrar.

Quem é o seu maior inimigo?
Não queria personalizar mas direi apenas a Justiça. Essa entidade vendada que, quando entrei para a política, disseram-me que tapava os olhos a certas questões... quem diz certas, diz todas as questões; de pessoas importantes como primeiros-ministros e tal... E é o que se vê. É uma bandalheira! Em Portugal, está mais do que visto que não funciona.

Qual é o seu hobbie?
Essa é óbvia: licenciaturas, só para matar o tempo. O Relvas bem tenta acompanhar-me, mas não tem hipóteses.

Qual a sua viagem por realizar?
Ao Cacém. Dizem que têm lá uns T1's muito bons. Quer o contacto? 
 
Qual o seu lema de vida?
"Não há nenhuma prisão em nenhum lugar do mundo na qual o amor não possa forçar a entrada" Oscar Wilde

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Se Medeia fosse de Valongo

Medeia de Eugène Delacroix, 1838

MÃE CONFESSA CRIME

 Melinda Dulcineia confessa a autoria do assassinato dos seus dois filhos

 

Confirmou-se a pior e mais surpreendente das hipóteses: as duas crianças encontradas numa casa de banho pública de Valongo foram degoladas pela mãe. Ao fim de duas semanas de investigação intensa por parte da Polícia Judiciária (PJ), chega ao fim este caso único em Portugal.
A investigação parecia ter entrado num impasse nos últimos três dias, devido à falta de pistas e provas concretas. Na madrugada passada, Melinda Dulcineia (MEDEIA), mãe das vítimas, entregou-se no comando distrital da PJ, onde confessou a autoria dos crimes.
Trata-se de uma hipótese que o comandante regional da PJ, José Sófocles, havia afastado há cerca de uma semana, em comunicado, onde dizia que "neste momento, todas as pistas nos afastam da hipótese de se tratar de um crime familiar, estando os investigadores concentrados na hipótese de se poder tratar de assassinatos ligados ao tráfego internacional de pedaços de crianças". Visto ter-se verificado o oposto, o comandante nacional da PJ, Túlio Homero, já falou aos órgãos de comunicação social, em conferência de imprensa, dizendo que se iria apurar responsabilidades internas do porquê de se ter afastado um suspeito, quase de imediato, que se veio a relevar ser o perpetrador dos crimes. 
Se a questão da PJ vai ter, seguramente, novos episódios, já o thriller de Valongo chega ao fim. O Farol de Lubumbashi (FdL) ainda não conseguiu apurar o teor da confissão de MEDEIA, mas conseguiu uma entrevista com o pai das vítimas, Jasão, que passamos a transcrever de seguida:

FdL: Como era a vossa relação?
Jasão: Há muito tempo que não era. Separámo-nos três semanas antes do [pausa para soluços], antes do [mais uma pausa para soluços, esta com cerca de seis segundos a mais do que a anterior], antes do... do que aconteceu.
FdL: E como é que Melinda Dulcineia aceitou a vossa separação?
Jasão: Nada bem! Nada bem, mesmo!
FdL: Tinham muitas desavenças, enquanto casal?
Jasão: Muito pelo contrário. Dávamo-nos muito bem.
FdL: O que aconteceu? O que mudou?
Jasão: Mudei-me eu. Conheci outra gaja, que era mais rica do que a Medy, e fui viver com ela.
FdL: E como é que lhe disse isso?
Jasão: Disse-lhe uma semana antes do [pausa para soluços, mais ou menos entre os três e os quatro segundos e meio], do...
FdL: Mas não me disse que estavam separados há três semanas antes dos terríveis acontecimentos?
Jasão: Disse-lhe a si! À Medy só disse quando já estava a viver com a outra. Aliás, se calhar, nem fui eu que lhe disse. Acho que foi o nosso vizinho, que vi uma vez no mercado...
FdL: ...e não lhe parece normal que ela tivesse ficado perturbada? Afinal, segundo apurámos, ela veio de longe só para viver consigo!
Jasão: É verdade! Tudo isso é verdade! Agora, acho que a reacção é intempestiva. Matou-me o puto!
FdL: Os...! Foram os dois!
Jasão: Tecnicamente, foram dois, tem razão. Agora, eu só gostava de um. Ela podia ter mandado a garota para o galheiro e estava tudo bem. Quites! Agora, o meu puto...! 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Motivos para apagar amigos do Facebook em legítima defesa


Ainda és daqueles totós que tem problemas em apagar amigos do Facebook? Arranjas esquemas mais intrincados do que um edifício da Segurança Social para levar amigos virtuais para o olvido? Não procures mais!
Fica com 7 motivos que te levam a clicar no remover de consciência tranquila:

#1 - Posts sobre as expectativas em torno do filme das 50 Sombras de Grey
Duas considerações:
- Li algumas vezes isto em posts de "amigos" (actualizei a ortografia uma vez que, os leitores da trilogia, nem sempre usam a correcta): "Eu, que nem tenho hábito de ler, li a trilogia de uma assentada". Isto é o mesmo que um menino da Somália comer um Big Mac em que o pão está verde, o "hamburguer" às pintas roxas e a alface coberta de larvas, e dizer: "É mesmo gourmet. E com bolo de caca!"
- Quem lê, sabe que o filme é sempre pior. Porém, chamar livro às 50 sombras de Grey é como chamar revista à Caras: o que interessa são mesmo as imagens.


#2 - Fotos de perfil de senhoras adultas com duck face
Já sabemos que estão recentemente separadas/divorciadas ou continuam à espera de não ficar para tias e a forma que arranjaram de mostrar que ainda são bué de jovens cools, fixes e nices é tirar fotos com duck face.
Porquê? Também sabemos que são tratadas por tu pelos funcionários da Hagen Daz. Chega, por favor! É deprimente. 
Quem faz duck face são as adolescentes; porque estão na idade parva. Outros adolescentes vão achar piada; porque são parvos.  

 #3 - Excitação em torno do "Hunger Games"
A não ser que tenhas 12 anos e combinaste uma ida ao cinema com a tua crew, para ver um filme que não precise de muita atenção, porque o que é realmente importante é sentares-te ao pé da Sílvia que andas a galar há uma semana no intervalo do liceu, Hunger Games não tem espaço para na vida de um adulto. A não ser que andes a galar pré-adolescentes. Aí, nada contra o filme e tudo contra ti.
 
#4 - Foto de perfil em traje de Verão em Novembro
Ou tens a mania que és melhor do que outros e esqueces-te de vir ao Facebook durante meses, ou és daqueles que altera a foto de perfil em bermudas ou biquini e com o comentário: "Saudades desta corzinha." Ao primeiro ainda perdoo por ser pobrezinho, não ter smartphone e só tem acesso à internet na Biblioteca Municipal. Ao segundo género, mando para a merdinha virtual e bye-bye.

#5 - Pregadores virtuais
Onde se fala de mensagens de Jesus, frases inspiradoras e manisfestos anti-políticos.
Minha gente, querem ter posts acerca do sacrifício de Jesus, que a vida se faz caminhando e que o Portas é um filho da puta, entalados entre as actualizações da Miss Reef Uruguai e vídeos de habilidades do Ronaldinho Gaucho quando jogava à bola? Acreditem numa coisa, vão ser ignoradas. Trata-se aqui das mesmas pessoas que ainda jogam Farmville 15 horas ao dia em vez de meterem o cu dentro de uma igreja, e a forma que arranjaram de manter viva a sua "espiritualidade" é massacrar-nos com o que Jesus fez; são pessoas que se escondem atrás de frases de felicidade quando, no interior, estão roxas de inveja com a amiga que fez férias na Polinésia Francesa em Novembro e que come sushi no Umai duas vezes por semana; são pessoas com o espírito dos velhos dos Marretas, falam mal de tudo o que é político mas nunca votam.
Interessam para alguma coisa? Remover.

#6 -
Pessoas que seguem a RFM
A não ser que tenham 80 anos e tiraram um curso de iniciação à internet no Centro de Dia da vossa paróquia, de modo a combater a solidão, seguir a RFM tem tanta lógica como preferir estar em coma em vez de acordado: um familiar sussura-te banalidades ao ouvidos e põe-te a tocar a única música que se lembra que tu gostavas há 25 anos atrás.

#7 - Pessoas que preferem emojis a palavras
É o mesmo que escolher falar com linguagem gestual quando não se é mudo. Sim, dá muito jeito nos transportes públicos, para evitar reformadas que te querem contar o seu CV em maleitas médicas. De resto, não. Eis alguns exemplos de frases para substituírem os emojis, de modo a não serem removidos (e para dizerem o que realmente lhes vai na alma):
;) = Estou a piscar-te o olho porque vais perceber que eu percebi o querias dizer, mostrando que sou muito perspicaz e cagão.
:) = Estava para colocar um smile, que é o substituto do sorriso amarelo na vida real quando, na verdade, é só para ser simpático e dar resposta a todos os likes que colocas nos meus posts.
<3 = Também gosto dessa música. Não vou exagerar e dizer que amo ou adoro.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Palavra do Ano

Então, importam-se de deixar de estar à porta da penitenciária de Évora?
Há outras coisas extremamente importantes a decorrer, como a escolha da palavra do ano!
Têm acompanhado? Eu nem consigo dormir direito, tal a excitação para saber qual vai ser!

Será que alguma delas tem categoria para ombrear com as vencedoras das edições anteriores?
Será que tem em si a atenção a todos os pormenores como Esmiuçar, a vencedora de 2009?
Será que consegue irritar até à loucura como Vuvuzela, a vencedora de 2010, ao ponto de vencer o concurso, só para não a termos que ouvir?
Será que é rígida, magra e esfomeada como Austeridade e Entroikado, as vencedoras, respectivamente, de 2011 e 2012?
Ou será que é daquelas cujo género desconhecemos mas não conseguimos deixar de ficar excitados, como Bombeiro, a... o... a... o... a vencedora do ano passado?

As finalistas deste ano são:

E sobre estas gostava de tecer algumas considerações.

É mais do que óbvio que a palavra Banco está fora da corrida sobretudo pelo que tem vindo a fazer ao país desde 2001. A única hipótese seria para Miss Simpatia, mas não creio.

Ébola e Legionela - aqui só com um 'l', não sei se o perdeu com a doença - também não creio que vençam, até porque não ficam muito tempo dentro das pessoas. Nem para Miss Fotogenia lá vão, com as pústulas e as chagas e a falta de banho... Horrível!

Há aqui três palavras que aldabraram na idade, só para poderem participar no concurso: Jihadismo, Corrupção e Cibervadiagem.
Jihadismo tornou-se moda em Portugal porque um tipo que nasceu em França, cujo tio-avô era português, faz parte do Estado Islâmico. Meus amigos, todos sabemos que Portugal tem algum atraso em relação à maior parte dos países, mas isto já é moda nos Estados Unidos desde o 11 de Setembro de 2001.
Corrupção em Portugal é como a prostiuição. É a mais antiga profissão. Menos digna, acrescente-se.
Cibervadiagem existe desde os tempos do MIRC, quando a malta interagia com desconhecidos em sistema MS-DOS. Ao fim de duas horas a teclar, combinava encontrar-se. Quem não se lembra da distante frase de engate: "Donde teclas?"

Tratando-se de um concurso aberto a todas as palavras portuguesas, a Selfie ainda tem que provar aonde arranjou um cartão do cidadão nacional. 

Gamificação é uma naturalização recente como o Fernando do Manchester City: é português, mas ninguém o põe jogar na selecção. A própria palavra não leva muito a sério o concurso, tendo dito inclusivamente: "Eu vou mais por desporto."

Basqueiro tem contra si o facto de ser muito espalhafatosa e de ter apenas uma projecção regional.

Xurdir é a grande outsider mas pode, muito bem, vir a ser a grande vencedora. Trata-se daquela palavra que ninguém sabe o que quer dizer mas, por puro gozo, era fixe que ganhasse.

Eu já votei. E tu?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Apaga-me o histórico que eu agora estou ocupado

Então uma visitante foi à Assembleia da República e insinuou que os deputados não estavam a fazer nenhum?
Agora toma! O deputado José Magalhães saiu de fazer nenhum e respondeu à visitante.

A visitante disse que os deputados estavam a fazer uma de três coisas:
- Ao telefone;
- A ler anedotas na internet;
- A ver "raparigas avantajadas".

Estar ao telefone é normal, até porque os patrocinadores das campanhas políticas precisam de uma linha aberta para as decisões políticas da sua conveniência.

"A ler anedotas da internet" está na moda, veja-se a recente intervenção de Pires de Lima no hemiciclo.
Consta-se que o PS vai responder com um sketch de Natal recordando a publicidade das Fantasias de Natal: Mário Soares a fazer de velhinho junto à árvore de Natal, a comer os chocolates à criança Tozé Seguro, e este a roubar o coelhinho e a colocar num comboio rumo a Évora, conduzido pelo maquinista José Sócrates e acompanhado por António Costa, que vai de gôndola a partir de Lisboa.

A ver "raparigas avantajadas" pode ser várias coisas.
Se for a bancada do PCP, pode ser a ver antigos discursos da Odete Santos.
Se for o computador de Passos Coelho, pode muito bem ser Angela Merkel a ditar o discurso.
Aliás, segundo José Magalhães, visto da galeria poderia ser tanto raparigas avantajadas como bananas. É o que dá espreitar o portátil do Paulo Portas.

Se calhar, vê-se mesmo mal da galeria e a visitante foi injusta na sua análise.
Até porque ao contrário, do hemiciclo, vê-se muito mal Portugal. Aquilo tanto pode ser um país como um parque de diversões para políticos.

domingo, 30 de novembro de 2014

Acompanha a Eneida com...

Se há coisas que odeio, mais até do que a austeridade, são aqueles prefaciadores que contam o livro todo antes de termos oportunidade de o ler. Bois!
Por isso, aconselho vivamente a Eneida, de Virgílio, e sugiro que acompanhem a sua leitura com as seguintes ementas gastronómica e musical.

Sopa
Sopa do mar

Prato principal
Costeletas de boi em cebolada

Sobremesa
Toranja

Bebida
Vinho corrente

Música de acompanhamento


 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A despensa do podologista

MULHER:
Querido, passa-me aí os alhos para o refogado.

PODOLOGISTA:
Dá-me dois minutos! Estou só a terminar o tratamento aos calos da D. Almerinda.

MULHER:
Ok! Olha, está aqui fora o consultor para falar contigo.

PODOLOGISTA:
(para a D. Almerinda) Já está! Olhe só para isto, que maravilha! Parecem os pezinhos de uma gueixa. Não se esqueça: calçado confortável e esta pomadinha todos os dias. Até para a semana!

D. ALMERINDA:
Ai, Dr. Tó! O senhor é um milagreiro! Até para a semana.

PODOLOGISTA:
Querida, aponta aí as faltas para os tratamentos: cebola, flôr de sal e polpa de tomate. Manda entrar o consultor.

CONSULTOR:
(surpreso e a olhar em redor) Boa tarde. João Ricardo, muito prazer.

PODOLOGISTA:
Boa tarde. Trate-me por Tó. Sente-se aqui neste saco de batatas.

CONSULTOR:
E... em que é que a Consultora Que Consulta Melhor que os Outras o pode ajudar?

PODOLOGISTA:
Preciso de um plano para ver quais as melhores condições para expandir aqui o meu negócio.

CONSULTOR:
Mas... Mas... Mas... Mas isto é uma despensa; de um apartamento!

PODOLOGISTA:
Daí a oportunidade! Já viu as possibilidades de franchising? Toda a gente tem uma despensa!

CONSULTOR:
O senhor é podologista, correcto? O que é que tem contra os consultórios normais?

PODOLOGISTA:
Sou, sim. E não tenho nada contra os consultórios. O que acontece é que, desde o incidente, a modos que estou proibido de exercer a minha arte dentro deles.

CONSULTOR:
Espere. O senhor está proibido de exercer podologia e quer fazer uma expansão de negócio mesmo assim? A partir de uma despensa?

PODOLOGISTA:
Eu nem preciso de exercer. O negócio está no ingrediente secreto, que deve ser guardado da despensa.

CONSULTOR:
Então trata-se de um ingrediente secreto para os pés? E estamos a falar de quê?

PODOLOGISTA:
Foi por isso que expulsaram da ordem. Por inveja e por pressão da indústria farmacêutica. Só pode. Este ingrediente é totalmente natural e orgânico. Sabe, quiseram-me colocar de pés para a cova. Um provérbio literal para os podologistas, percebe?

CONSULTOR:
Sim, boa graça. Mas que ingrediente é esse?

PODOLOGISTA:
Encontrei-o por acaso. O meu sogro é agricultor e, há uns anos, deu-me uma caixa de pimentos padrón. Um dia, estava com a agenda lotada e levei um caril de galinha para o almoço, que havia sido cozinhado os pimentos do meu sogro. Foi o dia inteiro a desentortar pés por causa das botas texanas. Era a moda da altura, que deixava os pés todos entrevados.

CONSULTOR:
Mas davam muito estilo!

PODOLOGISTA:
E joanetes! A seguir ao almoço, qual não é o meu espanto, comecei a bater recordes no tratamento e com eficácia imediata. O caril estava de tal forma picante que fiquei imediatamente com a boca dormente. Aquilo é daquele picante que as hemorróidas nascem como pipocas a rebentar. Tive que trabalhar a parte da tarde de pé e com a inclinação, juntando à dormência da boca, comecei a babar-me para cima dos pés dos pacientes. Eles não repararam mas, apesar da vergonha inicial, fiquei siderado com as propriedades curativas da minha baba.

CONSULTOR:
O senhor tratava os seus pacientes com baba?

PODOLOGISTA:
Tratava, não! Trato! Vim a saber que aqueles pimentos padrón haviam sido enxertados com aloé vera, tabasco e jalapeños mexicanos. Uma bomba! Mas extremamente eficaz!

CONSULTOR:
Está a dizer-me que resulta mesmo?

PODOLOGISTA:
Quer ver? Tire os sapatos e as meias. Eh lá, que calcanhares tão secos! Querida, traz-me o refogado do Tó. (entra a mulher) Obrigado, querida! Ora, então, bota abaixo! Dê cá o pé direito. Olhe para isto!

CONSULTOR:
Não posso crer! Passou tudo! Parece o calcanhar de um bebé. Ó homem, isto em frascos era uma mina de ouro!

PODOLOGISTA:
E digo-lhe mais. Para mim, era uma gama inteira. É que, depois da digestão, consigo fazer crescer o cabelo a um careca.

CONSULTOR:
O senhor também achou uma cura para a calvície?

PODOLOGISTA:
Também por acaso. Ingerir isto todos os dias tem o seu preço. As idas à sanita têm sido urgências. Uma vez, estava a minha mulher na casa de banho e eu tive que improvisar. Lembrei-me da casa de banho do gato e aliviei-me lá. Só depois é que reparei que o gato estava lá dentro. O Bolinhas tinha umas peladas e, passados dois dias, apresentava uma frondosa pelagem. Ou seja, não só tenho baba de Tó para venda, como cocó de Tó para barrar nas carecas desse mundo fora.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

SMS histórica XXIV

No dia a seguir a ter ganho as eleições legislativas, Pedro Passos Coelho recebeu uma SMS com uma frase de um dos fundadores da democracia norte-americana, a qual inspirou a sua conduta governativa. Porém, parece-me que foi mal interpretada, uma vez que o espírito da frase fala em agarrar a felicidade e não em agarrar a Constituição. Fica ao vosso critério.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Eneias e a bifana germinal

Eneas fugindo de Tróia de Pompeo Batoni, c. 1750
- Pscht, Augusto. Chega aqui.
- Quem, eu?
- Sim, Augusto, tu. Chega aqui.
- Mas eu não me chamo Augusto.
- Não te chamas Augusto, agora! É claro que sim! Traz-me uma bifana.
- Ó homem, você não deve estar nada bem.
- Estou mais que bem. Agora, neste preciso momento, vejo tudo e mais alguma coisa. Entretanto, deu-me a larica. Traz lá uma bifaninha; e um príncipe.
- Ó homem, já viu onde está? Já olhou à sua volta? Acha que num departamento das finanças vendemos bifanas?
- Se não têm, deviam ter! Sabes tu, porventura, o que era isto antes de ser as finanças?
- Deixe-me adivinhar: uma casa de bifanas.
- Nem por sombras. Não era, de forma nenhuma, "uma" casa de bifanas - era "a" casa das bifanas; onde tudo começou - chamava-se Roma, a bifana germinal.
- Como já reparou e eu lhe confirmei, aqui, agora, neste momento, isto é "uma" repartição das finanças.
- Queres com isso dizer que não honram a história do local?
- "Honram a hist"... como assim?
- Se não guardam nas arrecadações bifanas de antanho?
- Claro que não! Mesmo se o fizéssemos, deviam estar muito boas, deixe estar...
- Pois, boas ou não, seriam sempre originais; as legítimas representantes de todas as bifanas do mundo, as líderes incontestadas das bifanas...
- Segurança!

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Joelheiras ou Cotoveleiras? Eis a questão.

Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
Eu nunca cheguei a esta questão, até porque nunca consegui ultrapassar a outra questão essencial da nossa existência, que é aquela que fica precisamente entre a questão da galinha e do ovo e a do sentido da vida.
Trata-se, obviamente, de saber quem chegou primeiro: as cotoveleiras ou as joelheiras?
Escusado será dizer que se tornou numa obsessão:
Qual(is) a(s) sua(s) origem(ns)?
Quem inventou os famosos remendos?
Onde foram avistadas pela primeira vez?
Seria uma invenção única ou era suposto serem duas?
Teria havido roubo de patente?
Terei demasiado tempo livre?

Pesquisei profusamente e deparei-me com algo extremamente surpreendente: não sei o que quer dizer profusamente.
Vou pensar nisso.

domingo, 23 de novembro de 2014

SMS histórica XXIII

Aos 16 anos, Hitler desistiu do liceu por ter problemas em aceitar qualquer tipo de, pasme-se, autoridade.
Aos 18 anos, sai de casa, deixando sozinha a mãe, em fase terminal de cancro da mama, e decide rumar a Viena para ser artista.
Uma nota: Hitler não precisava de ter morto 6 milhões de judeus para se tornar numa figura detestável. Abandonar uma mãe cancerosa para ser pintor bastava.
Falhou a entrada na Escola de Belas Artes de Viena e culpou os judeus daquela escola por este impedimento na admissão.
Ao que parece desde esse dia trocou a pintura a pastel por uma vocação de transformar judeus em sabonetes e pasta de papel.
No mesmo dia, recebeu uma SMS de inspiração diária que reforçou o ódio. Curioso como tudo começa com uma frase de um tipo chamado Abraão:


Acompanha a peça de teatro Prometeu Acorrentado com...

Se há coisas que odeio, mais até do que a austeridade, são aqueles prefaciadores que contam o livro todo antes de termos oportunidade de o ler. Bois!
Por isso, aconselho vivamente a peça de teatro Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, e sugiro que acompanhem a sua leitura com as seguintes ementas gastronómica e musical. 

Sopa
Não tens direito a sopa!

Prato principal
Iscas de cebolada. Tuas, não para ti!

Sobremesa
Querias doces, era? Não há!

Bebida
Quatro gotas de água por dia

Música de acompanhamento

sábado, 22 de novembro de 2014

A importância de se chamar Sócrates

Em 399 a.C., o filósofo Sócrates decide pôr termo à sua vida, bebendo um trago de cicuta.
Cicuta não é scooter para os brasileiros, do mesmo modo que snooker é sinuca.
Cicuta é o veneno que Sócrates ingeriu depois de ter sido condenado, em Atenas, acusado de três crimes:
- Não acreditar nos costumes e deuses gregos;
- Unir-se a deuses malignos que gostam de destruir cidades;
- Corromper jovens com as suas ideias.
A sentença foi-lhe dada a escolher: ou se exila para sempre, ou lhe é cortada a língua, de modo a que não consiga ensinar aos demais. Sócrates escolheu a terceira via: a morte às suas próprias mãos.
Ontem, um tal de Sócrates foi detido no aeroporto de Lisboa, sob acusação de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção.
Parece-me exagerado.
Tal como o grego, o Sócrates português já havia dado a entender que as suas acusações não se diferenciavam das do preceptor de Platão:
- Não acreditava nos costumes portugueses e decidiu mudá-los através dos famosos PEC's. De repente, o Portugal do século XXI viajou até ao início do século XX e voltou a sentir fome, taxas de desemprego que fariam Salazar corar e impostos que levaram os suecos a exclamar: "Wow! Isso é bué de impostos!";
- Uniu-se aos deuses malignos do Freeport, da Ota e das sucatas Godinho, numa espiral de corrupção que mereceram um aplauso de pé e um sambinha de Alberto João Jardim; 
- Corrompeu eleitores com as suas ideias sobre Portugal, quando estava a falar da Alemanha, e leitores do Correio da Manhã ao ser eleito 'Sexy Platina' em anos consecutivos.
Para os mais incautos, para além destes paralelismos com o Sócrates, ainda viajou para Paris para, também ele, se tornar filósofo.
Coincidências? Nas famosas palavras dessa intelectual literária que é Margarida Rebelo Pinto, "sei lá!"
Pelo sim, pelo não, façam com este Sócrates o mesmo que ele tentou fazer com a comunicação social, e cortem-lhe a língua.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Alimentos para evitar constipações em pitas


O JN traz hoje um artigo que podes ler aqui, que fala dos alimentos que podem ajudar a reforçar o nosso sistema "humanitário" (estou a citar) nesta época das constipações.
Para quem tem filhos naquela faixa etária a que os pedopsicólogos designam tecnicamente por parva, ou para quem gosta de passear junto de liceus e sonha com casas em Elvas, sabe que as pitas se vestem/despem de uma forma que nenhum alimento salva da constipação certa. E quem diz constipação, diz gravidez.
Deste modo, gostaria de deixar os 6 alimentos que o artigo do JN fala e dar-lhes um uso em pitas, uma espécie de contributo, este sim, humanitário:

1 - Quivis, laranjas e romãs: ricos em vitamina C, são também as frutas que deixam as melhores nódoas. Aconselha-se besuntar em todas as camisolas de manga cavada, calções, e deixar utilizável apenas uma hipótese de toilette: camisola de lã, calças e deixar ao critério da pita o calçado. Poupa-se no Antigripine e no planeamento familiar.

2 - Abóboras e tangerina: ambas espectaculares em bicarbonetos e em bullying psicológico. O bullying é como o tio bêbado da família: podemos olhar para o lado, mas ele não vai deixar de existir. Deste modo, aconselho a contratar um puto com style (de cap e cenas) só para mandar bocas à pita. Dizer que está a ficar com o corpo em forma de abóbora dá azo à substituição de tops por camisolões largos, e dizer que tem umas maminhas do tamanho de tangerinas mirradas diminui exponencialmente as selfies com os úberes de fora.

3 - Alhos e cebolas: "aumentam as defesas e melhoram a resposta do organismo ao ataque de vírus e bactérias". Concordo. Mesmo assim, deixar notas espalhadas pela casa, dizendo que a ingestão de alho e cebola em estado cru, depois de lavar os dentes, retira todo o sabor a sémen da boca e funciona como anti-conceptivo eficaz. E resulta! Não há dread que pegue em pitas que cheirem a alho da boca.

4 - Legumes e frutos secos: são ricos em proteínas e em ferro. Dar primazia à compra de pepinos e bananas venezuelas e deixar no DVD, como que por engano, o filme da Sasha Grey Os Troncos da Quinta, onde a protagonista faz uma demonstração criativa do uso de bananas e pepinos. Mais uma vez, pode vir a poupar-se em contracepção. Não esquecer de escolher sempre os maiores exemplares, de modo a que a desilusão no liceu seja constante. A não ser que ela ande numa escola da Amadora; aí, convém comprar curgetes.

5 - Beterrabas: contém vitamina B9, C, potássio e sacarose, óptima na criação de anticorpos. Para quem não sabe, a beterraba tem uma cor encarnada, forte e espessa como o sangue. Creio não ser preciso dizer mais nada. Basta cortar um cubinho e colocar nos bolsos das calças ou calções que, devido à sua justeza, mal são vestidas começam a espalhar pelo rabo, dando a sensação que a pita está com o período. Tornam-se assim repulsivas e, daí, criarem anticorpos.

6 - Mel: o néctar divino tem a particularidade de ser antioxidante. É também o mais difícil de aplicar à pita, pois comporta logo o seu quê de fetichista. Neste caso, aconselhamos a fazer um workshop de apicultura e a ter duas ou três colmeias no quintal ou na marquise. Aquando da colheita, obrigar a pita a fazê-lo e acompanhar com a obrigação de usar o fato completo. Como é natural, a pita vai recusar, pois vai querer postar no Instagram o perigo que correu junto das abelhas sem o fato. Vai picar-se nas mãos e, desse modo, já não vai bater uma pívea nas traseiras do pavilhão ao bacano que tem uma mota. Como forma de cura das bolhas na mão, digam que tem que comer uma colher de mel, na qual colocarão uma abelha. Com a boca picada, não vão fazer um bobó ao bacano que tem um cabelo espectacular no WC junto à cantina.

Não se esqueçam: o alimento certo adia a constipação; e a ideia de ser avô.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

SMS histórica XXII

Quando estava a começar a sua carreira no mundo da televisão, Marta Leite de Castro recebeu uma SMS de um serviço de citações inspiracionais diárias, a qual norteou desde então a sua vida pessoal:

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Se Prometeu se chamasse Heidi

Prometeu de Elsie Russell, 1994
Esta é a história de Heidi, uma supermodelo que optou por deixar de o ser.
No auge da sua fama e reconhecimento, Heidi retirou-se aos 19 anos.
Ser simetricamente bonita, de corpo perfeitamente torneado - a "deusa das passereles" - não se conjugava com a sua procura de anonimato; não o dela mas o dos outros. E foi por isso que se retirou, farta dos seus pares gozarem com os seus anónimos namorados; farta dos seus relacionamentos não corresponderem às expectativas dos 'Adónis' com quem trabalhava. No fundo, o que os outros diziam não lhe importava; temia pelos seus anónimos; que o amor que lhes tinha não podia ter qualquer ruído.
E assim fez.
Já no anonimato encontrou um local que lhe sentiu como sendo o seu paraíso. Tratava-se de uma sala repleta de cadeiras, onde se reuniam semanalmente os alcoólicos anónimos. Era perfeito: ninguém era ninguém; todos eram o seu vício.
Foi aqui que conheceu Marco, um ex-Navy Seal, veterano da primeira guerra do Iraque, que havia afogado o síndrome pós-traumático na companhia do dr. Jack e do sr. Daniels. Quando conheceu Heidi, estava em fuga dos seus companheiros pela oitava vez.
Sem descrições de como se desenrolou o seu relacionamento, até porque o fizeram sempre dentro de portas e de fechadura trancada, depressa deixaram entrar também os antigos companheiros de Marco.
Para a ex-deusa das passereles era o início do seu suplício. Habituada durante anos a alimentar-se através de fotossíntese, o dr. Jack e o sr. Daniels provocaram-lhe dores e danos irreparáveis no fígado.
Hoje, pouco sabemos dela. A última vez que a vimos foi à porta de uma reunião dos alcoólicos anónimos.
O seu paraíso.
O seu anonimato.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

#Day1

A vida é para se viver sem paragens. Já não aguentava o som dos travões do vizinho do 1º esq. às 6 da manhã. Cruzamento sem STOP, vizinho sem vida, prioridade à minha felicidade. #100happydays #day1 #vivesemparar #morresemparar #botaoleonostravoes

A casa onde me tornei ateu


Já repararam que hoje em dia é cada vez mais difícil acreditar no que quer que seja?
Há um número crescente de pessoas que não acredita em Deus. Para isso muito contribuiu os escândalos da igreja, o raciocínio e a existência da Fanny.

Eu sou ateu. E preguiçoso. Aliás, se decidires ser ateu podes ser preguiçoso. Na verdade, conheço pouco de religiões mas desse pouco gosto de tudo: gosto quando são perseguidas; gosto quando provocam guerras; gosto, até, quando violam putos. Isso significa que eu não tenho que fazer nada pela causa do ateísmo. As acções das religiões permitem a continuidade da minha preguiça.

No fundo, dizer que sou ateu tem tanta força como dizer que não sou pedófilo. Aquilo que a classe dos pedófilos faz permite-me não fazer nada pela causa da não-pedofilia.

Eu disse que não era pedófilo? Peço desculpa. O que queria dizer é que ainda não sou pedófilo.
Não significa que o venha a ser; diria que as probabilidades são até remotas; mas não me apanham mais a dizer que nunca irei ser ou fazer uma coisa.
O Passos Coelho disse que nunca aumentaria os impostos e foi a pouca vergonha que se viu. Ele que se prevenisse.
Há uns anos, também eu disse que nunca provaria sushi - "Ai que nojo, peixe cru!" - e aquela merda é das minhas comidas predilectas. E só não é a favorita porque, sempre que como cá em casa tenho que ouvir a minha mulher:
- Hum, hum! Estás a comer que nem um javali! Para quem nunca ia provar...

Nunca mais me apanham com nuncas!

Então, sou ateu, ainda não sou pedófilo e amo sushi.

Na verdade, talvez seja ateu por respeito à minha família. Nunca consegui enveredar por uma das religiões que praticavam. Até aos 7 anos vivi numa casa com 10 pessoas, 4 quartos e 8 religiões. Aquilo era uma espécie de Jerusalém mas com pessoas que tomavam banho.

No primeiro quarto vivia a minha bisavó Eduarda com as cinzas do meu bisavô. Confesso que não sei bem a religião dela. Sei apenas que ela, quando casou, tinha 23 anos, e o meu bisavô 7. Não sei, talvez isso faço dela uma católica instantânea.

No quarto em frente viviam os meus avós.

A minha avó Maria era, e ainda é, evangélica, ou metodista, ou wesley... wesli... Eh pá, é daquelas igrejas que funcionam como os ginásios: o gajo que está à frente daquilo é brasileiro; as pessoas reunem-se numa sala onde estão todas de mão no ar a praticar a fé; e até ao dia 8 de cada mês têm que pagar a mensalidade.

O meu avô Joel era judeu. E masoquista. Também era do Sporting, o que em termos de sofrimento equipara-se. Todavia, era judeu. O que acontece é que foi ele que comprou aquela casa, a qual era em tudo semelhante a um crematório de Auschwitz: o corredor entre os quartos era estreito, escuro, soturno, triste; a cozinha cheirava sempre a gás; e comíamos muitas vezes porco, ligeiramente esturricado.

No terceiro quarto viviam as minhas tias.

A mais velha chamava-se Sofia e era Testemunha de Jeová.
Já sei o que estão a pensar! São uns chatos do camandro, são como os testículos porque andam sempre aos pares... Conheço as piadas todas!
No entanto, esta foi a religião que estive mais perto de abraçar. Trata-se da única congregação do mundo que segue a Bíblia à risca e consigo respeitar isso. Quando todas as outras pegam no livro sagrado e fazem "interpretações" de acordo com as suas intenções, há que enaltecer as ovelhas negras.
Porém, depressa descobri que o problema das Testemunhas de Jeová não é teológico senão estatístico.
Ora vejamos: segundo a Bíblia, aquando do Juízo Final, somente 10 mil pessoas irão para junto de Deus. Os Testemunhas de Jeová acreditam que serão eles os escolhidos. Acontece que eles são mais de 8 milhões!
Foi aí que comecei a pensar: toda a gente foge quando eles nos abordam; nunca ninguém ouve o que eles têm a dizer; e começam logo a falar de Jesus.
E cheguei à conclusão que os Testemunhas de Jeová não querem angariar fiéis - têm um desejo de morte! Eles precisam de ajuda para diminuirem o seu valor de 8 milhões para 10 mil.
Daí falarem de Jesus, que morreu crucificado; daí o seu capítulo favorito ser o do Apocalipse; daí terem anunciado mais do que uma dezena de vezes que o mundo ia acabar; daí não aceitarem transfusões de sangue...
Meus amigos, o que as Testemunhas de Jeová precisam não é de novos membros - precisam de meia dúzia de macacos do PNR para lhes limpar o sebo.
Eu já contribuí - e tu?

A mais nova das minhas tia era a Deolinda. Era puta, mas nós dizíamos a toda a gente que era muçulmana. Mas tinha lógica! Ela trabalhava numa recta, practicamente em frente à Meca dos Leitões, a maior dos serviços que tinha implicava estar quase sempre de joelhos, e era conhecida como o Alcoirão da Mealhada.

Ainda no mesmo quarto viveu o meu primo, filho do Alcoirão.
O Zé é a vergonha da família. Nunca se interessou por nada. Zero! Aliás, a única coisa pela qual o vi ter interesse foi pela maquilhagem da mãe. De resto, nada! E não é que o gajo, quando fez 16 anos, reuniu toda a gente na sala e anunciou que era agnóstico. Agnóstico! Ele não disse por estas palavras, mas nós percebemos. O que ele disse foi: "A partir de hoje, quero ser tratada por Tatiana." E agnóstico é ser isto, é um gajo não saber se é uma coisa ou outra. É, perante a dúvida, continua a duvidar.
Amigos, ser agnóstico, para mim, tem tanta lógica como rever os filmes do David Lynch: por muitas dúvidas que tenhas, vais continuar a tê-las.
Porque um ateu, mesmo não acreditando, acredita na existância do nada. O agnóstico é o cagão: "o que tiver que ser, será." É claro que, para defender algo, para acreditar em algo, mesmo que seja em nada, há que ter tomates. E a Tatiana claramente não tinha!

Chegamos ao quarto e último quarto: o meu e o dos meus pais.
A minha mãe era protestante; o meu pai, satânico. Foi de luzes apagadas que, quando eles pensavam que eu estava a dormir, ouvi muitos debates teológicos. Vejamos um exemplo:
M: Achas que ele já está a dormir?
P: Já. Anda! Vamos a isso!
M: Oh! E se acorda?
P: Não acorda nada! Anda, meu anjinho!
M: Está bem. Anda cá!
P: Já estou!
M: Já?
P: E assim?
M: Oh, sim! Mais devagar!
Cá está, a minha mãe a começar a protestar.
P: Quem quer levar um tau-tau do diabrete?
O meu pai a entrar no satanismo propriamente dito.
M: Ai, Jesus! Ai, meu Deus!
Pumba! Contra-ataque ao Satanás com duas entidades divinas.
P: Oh, Diabo!
M: Ai Jesus!
P: Oh... oh... oh... diaaaaaaboooooooooooooo!
[...]
M: Já está?
[...]
P: ZZZzzzzzzzzzzzzzzzzz.
Aqui está! A minha mãe queria mais e eu também. Houve outras noites em que a minha mãe se queixou da profundidade e que o meu pai não a preenchia devidamente. Não quero aqui tomar partidos, mas também acho que o meu pai ficava atrás em profundidade. Já o meu tio Alberto, todo ele era profundidade.

Cá está! Perante uma casa tão ecuménica, optei pelo ateísmo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

#100happydays


A partir de amanhã.
Sigam aqui ou no instagram.

Revolução no veludo

Comemora-se neste 17 de Novembro, os 25 anos da única revolução que um nome mais rabicho do que a nossa dos cravos - a Revolução de Veludo.
Neste dia, em 1989, os estudantes checoslovacos vieram para a rua comemorar o 50º aniversário da morte de Jan Opletal, um estudante checo morto pelos nazis. Porém, como esta comemoração foi feita uma semana depois da queda do muro de Berlim, depressa escalou para uma manifestação anti-comunista e pró-nacionalista. O resultado foi o fim da ingerência soviética sobre a Checoslováquia, a eleição de Vaclav Havel como presidente do país à luz da democracia, e a divisão posterior do país em dois: República Checa e Eslováquia.

Há, no entanto, um factor determinante na Revolução de Veludo e do qual nenhum historiador e politólogo menciona: Erasmus.
Dois anos antes, em 1987, foi criado pela União Europeia o Programa Erasmus, para promover a mobilidade dos estudantes universitários dentro do solo europeu.
Ao que tudo indica, as universidades de Bratislava e Praga mantinham reuniões secretas desde, precisamente, 1987, com o intuito de abrir as fronteiras aos estudantes da Europa. Havia, inclusive, preferência para os estudantes da Europa do Sul, corroborada pelo ponto 1. do Manifesto As Checas preferem os morenos:
«1. Queremos abrir-nos a portugueses, espanhóis e italianos. Precisamos de pessoas com lábia - já estamos fartas de acção, primeiro com os panzers alemães, depois com os bêbedos dos soviéticos.»
E foi sob este espírito que os estudantes checoslvacos engendraram a sua revolução sexual, sob a máscara do combate ao comunismo e, em 17 de Novembro de 1989, iniciaram a sua "Revolução de Veludo".
Aliás, este movimento tomou esta designação para confundir os estudantes oriundos da Europa do Sul. Eu passei dois semestres em Brno e, ainda hoje, não sei se quem me passou chatos foi a Ruzena ou os lençóis de veludo.  

SMS histórica XXI

Na manhã do mais famoso e sexy cantar de parabéns, John F. Kennedy enviou uma SMS a Marilym Monroe:


domingo, 16 de novembro de 2014

Garganta - Volume 1

Domingo. Dia de encher a pança e a alma.

Hoje trazemos a "Garganta", o primeiro número da revista literária da PruX, toda ela em áudio e com o alto patrocínio da Associação Nacional de Gaguez Ambulante (ANGA), à qual gostaríamos desde já agradecer o fornecimento de locutores.

O tema deste mês é: "Repetições em literatura".
Vejamos um excerto do conto de Afonso Cruz "O longe é o perto passo a passo" na voz de San... San... San... San... Sandro Porra! e no qual, por erro técnico, ouve-se a voz do técnico de som (no texto, entre parentesis rectos]:

"A noite é o com... com... com... com
[salta a frase]
 depressa se forma na men... men... men... men...
 [avança Sandro]
 nunca o dia iniciou o dia, porque do escu... escu... escu... escu...
 [anda, Sandro, só nos resta 20 minutos de tempo no estúdio]
 escuro também Vladan, o faq... faq... faq... faq...
 [Sandro, faq também para ti. Chiça!]
 e o mujahedin libertou-se na san... san... san... san...
 [Baza Sandro! Acabou o tempo!]

Bem-haja!

Acompanha a Odisseia com...

Se há coisas que odeio, mais até do que a austeridade, são aqueles prefaciadores que contam o livro todo antes de termos oportunidade de o ler. Bois!
Por isso, aconselho vivamente a Odisseia, de Homero, e sugiro que acompanhem a sua leitura com as seguintes ementas gastronómica e musical. 

Sopa
Sopa de nabiças

Prato principal
Feijões enlatados com salsichas

Sobremesa
Laranja (por causa do escorbuto)


Bebida
Água (sem sal) e Vinho tinto

Música de acompanhamento:


Filme de acompanhamento (baseado numa história fictícia):

 

sábado, 15 de novembro de 2014

As Mil Sagres Bebem-se Devagar

O regresso à PruX desta grande autora e, ainda por cima, num Sábado, só para provar que não é calona, ou calã, ou... Para provar que não é preguiçosa. Tem aquele problema, sim senhor, mas não é mandriona.

Margarida Rebél'ó Pito traz-nos As Mil Sagres Bebem-se Devagar, uma história que faz a apologia à vida regrada.
A protagonista do livro, também ela Margarida, tenta demonstrar às pessoas que a rodeiam que devemos regressar a certas tradições. Vejamos esta passagem:

- Lourenço, gostava de viver na época da 1ª República.
- Porquê, gostavas de viver numa época em que os políticos se batiam por ideais?
- Idei quê? Não, quando havia em Portugal 90% de população analfabeta e quem soubesse escrever era rei; ou rainha.
- Ah! Já tivemos esta conversa. Podes resolver o teu problema com um dicionário e uma gramática.
- Eu sei. Mas também sabes que as definições confundem-me. Então, agora, as palavras têm significados com outras palavras? E já viste bem o tamanho dos dicionários? Quem precisa de tantas palavras?
- Porque não usas uma app?
- Uma quê?
- Uma app de telemóvel com dicionário. Nem precisas de folhear; é só escrever a palavra que procuras.
- A sério? Vou já fazê-lo!
- O que é que estás a fazer?
- Estou a instalar a app.
- Eu disse no telemóvel; isso é uma estante!
- Ah! Como é um móvel e tem a TELEvisão em cima, pensei que também dava.

A não perder!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A luz dentro do túnel


Marinheiro
Olá! Olá! Está aqui alguém?
  
Marketeer
Sim, estamos aqui todos.

Marinheiro
Como assim, todos? São muitos?
  
Marketeer
Vinte e um. Neste momento, estamos vinte, porque o Alberto só gosta de fazer o turno da noite.

Marinheiro
Mas está tão escuro! Como é que conseguem distinguir o dia da noite?

Marketeer
Na realidade, não conseguimos. Só o Alberto. Ele já tentou vir de dia, mas começou a derreter.

Marinheiro
É vampiro?

Marketeer
Ridículo! Os vampiros não existem, homem! O Alberto é um ciclope e tem uma doença de pele muito rara. Mas diga lá ao que vem.

Marinheiro
Venho apresentar-me ao serviço. Para o posto de guarda... costeiro.


Marketeer
Muito bem. Vá ter com o João junto do barco.


Marinheiro
Barco? Existe mesmo água aqui?


Marketeer
Sim, não está a ouvir?


Marinheiro
Não é possível! Isto é um túnel! Estão a passar carros na faixa de lá! Quando me disseram aonde era o serviço pensei que era gozo dos meus camaradas. Como ando sempre a coçar-me nas partes... nos guiz... a coçar-me, achei que estavam a mangar. O meu comandante disse-me: "Joaquim, tanta comichão só passa assim que entrares no túnel." Nunca pensei que fosse um túnel túnel. Pensei que era um túnel figurado, daqueles que permite deixar de ter... afrontamentos...


Marketeer
Bem-vindo ao túnel túnel.


Marinheiro
Mas o que se passa aqui?


Marketeer
O que se passa aqui é a realização do meu sonho: uma praia escura num túnel.


Marinheiro
 O que é que isso tem de bom?


Marketeer
Já reparei que o meu amigo não tem complexos. E mesmo neste escuro continua com as mãos nas partes baixas.

Marinheiro 
Consegue ver?

Marketeer
Não. Mas conheço o som do indicador a afagar o saco escrotal. Mas deixe-se estar. Este é o espaço para as pessoas se libertarem de complexos. E é sempre quentinho; o túnel absorve o monóxido de carbono como ninguém.

Marinheiro
Complexos?

Marketeer
Sim. Antes da existência desta belíssima praia, já eu adorava a praia mas não ia. Tenho muitos sinais nas costas. Tenho vergonha de um em particular, que parece um urso a sodomizar a minha mãe. Mas descobri que, como eu, havia muitos. E se não fosse por causa dos sinais era porque por causa de serem muito brancos ou gordos ou...

Marinheiro
Não seria mais fácil ir a um dermatologista ou a um psicólogo, de modo a resolver os complexos.

Marketeer
Era. Mas isso não resolvia o problema dos gordos, porque não há médico nem dieta que os demova dos croissants. Resultado: continuariam a não ir à praia. E agora pergunto eu: onde poderia encontrar um badocha para gozar?

Marinheiro
Como?

Marketeer
E quem diz gozar, diz atirar donuts para a faixa dos carros, e dizer: "Oh meu Deus, era o último!"
É vê-los a correr!

Marinheiro
Então isto não tem nada de filantrópico; é só sadismo!

Voz indistinta
Homem ao mar!

Marketeer
Homem ou badocha?

Voz indistinta
Badocha!

Marketeer
Tenho de ir. Começou o jogo "hipopótamo à água". Vou ali atirar umas fatias de piza amarradas a tijolos e já volto a falar consigo.