quinta-feira, 2 de maio de 2013

O escritor que se esqueceu de escrever II

(continuação - parte 1 aqui)

Bruno ainda completou os estudos com um Mestrado integrado. Sob a temática de Viagem Literária e Gin Tónico: fecha os olhos e acorda num país diferente (a aspirina é universal), orientado por Henry Miller, apresentou a tese intitulada Bovary e José Jorge Letria: adultério ou prostituição literária?, para a qual obteve a classificação de 13 valores que, curiosamente, era o mesmo valor de grau alcoolémico da garrafa que o orientador estava a beber naquele momento.
Chegou o momento criativo: o homem perante a página em branco.
Passaram meses e a única coisa que Bruno conseguiu escrever foi um conto intitulado "O homem perante a página em branco", em que, subliminarmente, mostrava a inquitude do escritor perante a alvura das páginas. Subliminarmente, pois o conto possuía dez páginas sem nada escrito. Duchamp ainda bateu palmas mas não estava ninguém presente naquele urinol público.
Ainda tentou plagiar Bukowski, mas a única coisa que conseguiu fazer foi beber duas garrafas de uísque sem desmaiar.
No dia em que sentiu o primeiro sintoma pré-bartlebiano, ou seja, em que decide deixar de escrever sem nunca o ter feito, recebeu um telefonema diferente. Do outro lado da sapatilha All Star estava Eduardo Prado Coelho a congratulá-lo pelo seu primeiro livro. "Vejo nele um equilíbrio perfeito entre Joyce e Bonga", disse-lhe Eduardo Prado Coelho. "Obrigado." Na verdade, Bruno procurou conjugar Becket e Cesária Évora, mas esse não era o problema. O problema é que não havia escrito nada.

(continua mais uma vez aqui)

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