sábado, 15 de novembro de 2014

As Mil Sagres Bebem-se Devagar

O regresso à PruX desta grande autora e, ainda por cima, num Sábado, só para provar que não é calona, ou calã, ou... Para provar que não é preguiçosa. Tem aquele problema, sim senhor, mas não é mandriona.

Margarida Rebél'ó Pito traz-nos As Mil Sagres Bebem-se Devagar, uma história que faz a apologia à vida regrada.
A protagonista do livro, também ela Margarida, tenta demonstrar às pessoas que a rodeiam que devemos regressar a certas tradições. Vejamos esta passagem:

- Lourenço, gostava de viver na época da 1ª República.
- Porquê, gostavas de viver numa época em que os políticos se batiam por ideais?
- Idei quê? Não, quando havia em Portugal 90% de população analfabeta e quem soubesse escrever era rei; ou rainha.
- Ah! Já tivemos esta conversa. Podes resolver o teu problema com um dicionário e uma gramática.
- Eu sei. Mas também sabes que as definições confundem-me. Então, agora, as palavras têm significados com outras palavras? E já viste bem o tamanho dos dicionários? Quem precisa de tantas palavras?
- Porque não usas uma app?
- Uma quê?
- Uma app de telemóvel com dicionário. Nem precisas de folhear; é só escrever a palavra que procuras.
- A sério? Vou já fazê-lo!
- O que é que estás a fazer?
- Estou a instalar a app.
- Eu disse no telemóvel; isso é uma estante!
- Ah! Como é um móvel e tem a TELEvisão em cima, pensei que também dava.

A não perder!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A luz dentro do túnel


Marinheiro
Olá! Olá! Está aqui alguém?
  
Marketeer
Sim, estamos aqui todos.

Marinheiro
Como assim, todos? São muitos?
  
Marketeer
Vinte e um. Neste momento, estamos vinte, porque o Alberto só gosta de fazer o turno da noite.

Marinheiro
Mas está tão escuro! Como é que conseguem distinguir o dia da noite?

Marketeer
Na realidade, não conseguimos. Só o Alberto. Ele já tentou vir de dia, mas começou a derreter.

Marinheiro
É vampiro?

Marketeer
Ridículo! Os vampiros não existem, homem! O Alberto é um ciclope e tem uma doença de pele muito rara. Mas diga lá ao que vem.

Marinheiro
Venho apresentar-me ao serviço. Para o posto de guarda... costeiro.


Marketeer
Muito bem. Vá ter com o João junto do barco.


Marinheiro
Barco? Existe mesmo água aqui?


Marketeer
Sim, não está a ouvir?


Marinheiro
Não é possível! Isto é um túnel! Estão a passar carros na faixa de lá! Quando me disseram aonde era o serviço pensei que era gozo dos meus camaradas. Como ando sempre a coçar-me nas partes... nos guiz... a coçar-me, achei que estavam a mangar. O meu comandante disse-me: "Joaquim, tanta comichão só passa assim que entrares no túnel." Nunca pensei que fosse um túnel túnel. Pensei que era um túnel figurado, daqueles que permite deixar de ter... afrontamentos...


Marketeer
Bem-vindo ao túnel túnel.


Marinheiro
Mas o que se passa aqui?


Marketeer
O que se passa aqui é a realização do meu sonho: uma praia escura num túnel.


Marinheiro
 O que é que isso tem de bom?


Marketeer
Já reparei que o meu amigo não tem complexos. E mesmo neste escuro continua com as mãos nas partes baixas.

Marinheiro 
Consegue ver?

Marketeer
Não. Mas conheço o som do indicador a afagar o saco escrotal. Mas deixe-se estar. Este é o espaço para as pessoas se libertarem de complexos. E é sempre quentinho; o túnel absorve o monóxido de carbono como ninguém.

Marinheiro
Complexos?

Marketeer
Sim. Antes da existência desta belíssima praia, já eu adorava a praia mas não ia. Tenho muitos sinais nas costas. Tenho vergonha de um em particular, que parece um urso a sodomizar a minha mãe. Mas descobri que, como eu, havia muitos. E se não fosse por causa dos sinais era porque por causa de serem muito brancos ou gordos ou...

Marinheiro
Não seria mais fácil ir a um dermatologista ou a um psicólogo, de modo a resolver os complexos.

Marketeer
Era. Mas isso não resolvia o problema dos gordos, porque não há médico nem dieta que os demova dos croissants. Resultado: continuariam a não ir à praia. E agora pergunto eu: onde poderia encontrar um badocha para gozar?

Marinheiro
Como?

Marketeer
E quem diz gozar, diz atirar donuts para a faixa dos carros, e dizer: "Oh meu Deus, era o último!"
É vê-los a correr!

Marinheiro
Então isto não tem nada de filantrópico; é só sadismo!

Voz indistinta
Homem ao mar!

Marketeer
Homem ou badocha?

Voz indistinta
Badocha!

Marketeer
Tenho de ir. Começou o jogo "hipopótamo à água". Vou ali atirar umas fatias de piza amarradas a tijolos e já volto a falar consigo.

O Portas da Corrupção

Ó meu menino, não se brinca com esta temática!
Porquê?
Porque sim.
Porque sim não é resposta!

O Portas da Corrupção de Aldo Suxley mostra o lado mais obscuro do Facebook. É uma história de intriga, administradores de páginas corruptos e vistos gold.

Ao primeiro dia, Zuckerberg criou o Facebook e era bom. Porém, ainda no primeiro dia, mas da parte da tarde, outros valores se impunham. Zuckerberg tinha que transformar o Facebook numa máquina de fazer dinheiro. A ideia original era criar um espaço democrático virtual, mas depressa viu que as democracias se alimentam de pilim.
Quem beneficiou desta medida foi Johnny Portas, administrador da página de Facebook Submarines in my backyard. A sua página contava com mais de 10 milhões de seguidores mas, para os seus posts chegarem a todos os fãs, tinha que pagar ao senhor Zuckerberg.
Portas ficou indignado: não porque os seus posts não chegavam a toda a gente; mas porque pretendia que os seus posts chegassem a um número de pessoas seleccionadas por ele.
Marcou uma reunião com Zuckerberg e foi aí que se estabeleceu o princípio dos vistos gold. Sempre que Portas publicasse um post pago, saberia se as pessoas que lhe interessavam o tinham visto, através da mensagem 'visto', em tom dourado.
Grande parte dos 10 milhões de seguidores nunca veria esses posts e só saberia da sua existência quando fosse tarde de mais: duas horas depois ou, horror dos horrores, no dia seguinte.

Siga o pavor dos seguidores que não acompanham os posts, na hora, das suas páginas favoritas, tudo porque não tiveram direito a um visto gold.

SMS histórica XX

Logo após saber que tinha sido laureado com o Prémio Nobel da literatura, José Saramago enviou imediatamente uma SMS a António Lobo Antunes.


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Quem disser o contrário é porque é c*brão

Chiça, parece que foi ontem!
Não é que já passaram 5 semanas desde que o Murakami perdeu o prémio nobel?

A PruX oferece hoje um manual que não é automático. Quem disser o contrário é porque é c*brão de O Mário é do Car*lho é um guia de escrita de ficção que é, ao mesmo tempo, um livro de ficção.
Confusos?
Eu também!

Vou tentar explicar. Trata-se de um almanaque que explica em 12 passos como deixar um leitor agarrado à ficção:

1. Gancho: prender logo o leitor, escondendo uma substância aditiva na página da dedicatória, por exemplo, besuntá-la com LSD.

2. Filtros: ter duas páginas com picotado para filtros porque dá bué estilo ler e fumar.

3. Enfrentar o elefante: o livro deve deixar o leitor desconfortável e a ter que enfrentar o elefante na sala. Com a substância do ponto 1 a fazer efeito será mais fácil, e é muito giro ver elefantes magenta a voar numa sala de 12 metros quadrados.

4. Fornecer oásis literários: depois do impacto inicial, o leitor deve sentir que teve um benefício por ter enfrentado o elefante, como caminhar por um deserto e encontrar finalmente água.

 5. Esquecer o elefante: incluir uma história ainda mais espatafúrdia sob pena de o leitor ainda vai estar a olhar para o elefante voador; ou pior, deixar o livro de lado para lamber rodapés. Aconselha-se o uso de onomatopeias para assustar o leitor, como rangidos desconhecidos ou sons de passos.

6. Água: não se esqueça de continuar a repor os níveis de sais minerais do leitor.

7. Entrar em mundos desconhecidos: fornecer pistas e pequenos vislumbres do desconhecido. O rangido vinha da porta da cozinha que era alérgica ao vento da marquise. Já o som de passos era de uma colónia de formigas que vivia debaixo do tapete da sala e estavam a coreografar Fred Astaire junto do microfone do Singstar.

8. Água: nunca esquecer a água, essencial para quem pratica maratonas de leitura.

9. Êxtase final: onde tudo se liga. O leitor chega à conclusão que está tudo conectado: o rangido da porta e o sapateado das formigas estão a deixá-lo maluco. Pega no fio que estava a prender o elefante e solta-o sobre as formigas. Antes de falecerem, as formigas ainda gozam com a cor do paquiderme e este, envergonhado, destrói a porta da cozinha, antes de se atirar pela janela da marquise, levando com ele todo o vento. O leitor não sente aragem nenhuma. O elefante ficou com todos os tipos de vento dentro dele. O leitor esconde-se na casa de banho aterrorizado porque causou o fim do vento. Desmaia junto do bidé com o microfone do Singstar na mão, ao som das Amarguinhas.

10. Recobro: o leitor acorda e não sabe em que lugar está. Tem apenas sede.

11. Sentimento de viagem: o livro tem que fazer com que o leitor sinta que fez uma viagem para o desconhecido, mesmo que seja para as traseiras de um bidé, ou um consultório clandestino em Banguecoque com um rim a menos.

12. O bom medo de regressar: por último, o livro tem que fazer o leitor sair de casa para procurar outro livro que alimente o seu vício. Tem que o fazer entrar numa livraria e perguntar por outro livro do mesmo autor e não se importar de estar nu e a coçar-se todo.

SMS histórica XIX

No famoso dia em que Salazar caiu da cadeira, acto que levaria ao seu afastamento do poder, o ditador ainda teve lucidez para enviar uma SMS ao carpinteiro:


Da condição feminina e piqueniques II



(Continuação do relato da D. Adosinda) - Lê a primeira parte aqui.

Chegamos à mata da Gafanha da Encarnação por volta das 6 e 30. Já lá estava a minha irmã Alice a guardar lugar e, por isso, quem ficou de trombas foi a Gertrudes, que chegou depois. A minha irmã perguntou-me se aquilo eram horas de chegar, eu pedi desculpa, e o meu homem virou-se para mim:
«Aquilo é que é uma mulher. Se eu soubesse o que sei hoje, tinha casado com a tua irmã.»
E ainda bem que não o fez, só andou enrolado com ela aqueles dois anos e deixou-a, porque ele é bom homem e muito trabalhador; tive muita sorte! 
Descarreguei a carrinha e o meu homem ainda me ajudou com a arca; ele gosta de começar a beber cedo, diz que relaxa melhor assim. Eu não acho, até porque ele relaxado fica com a mão mais pesada! Tive um hematoma aqui, na maçã do rosto, que demorou a desaparecer quase um mês e foi, precisamente, quando ele chegou a casa às tantas, de estar na tasca com os amigos.
A Alice e eu começámos a tratar do almoço enquanto os homens jogavam à malha: pôr toalhas, montar as tendas, dispôr os pratos, ligar o camping gaz para aquecer a comida e ainda nos rimos muito quando vimos que as duas trouxémos talheres:
«Então, eu não te disse que esta era a minha vez? Vieste carregada para nada!»
Que belo momento! Os homens ouviram-nos a rir e gritaram lá de longe:
«Estão a rir-se de quê? Vejam lá é se esquecem da comida ao lume! Raio das mulheres! Tem que se 'tar sempre em cima delas!»
E tinha razão o meu cunhado. Já bastou a malandrice a preparar as coisas todas. Nisto, são quase dez e meia e os homens querem começar a almoçar. Fui buscar a arca que estava ao pé deles e reparo que já só tem 7 cervejas. Nós tínhamos trazido 80. Estou feita, já vou ouvir!, pensei. Olha, afinal não, porque o meu cunhado vem de gatas e o meu homem ri-se em alto e bom som. Antes de chegar à toalha, o meu cunhado adormece no caminho. O meu homem ainda come um pedaço de broa com chouriça, mas também adormece com a cara metida no bolo de cenoura.
Aqui começa a grande azáfama.
Dantes, acontecia isto e os homens acordavam por volta das 4 da tarde, olhavam para as horas, reparavam que não tinham comido, lembravam-se que o Benfica jogava às 5; batiam-nos por nós não nos termos lembrado disso, e por eles irem ver o jogo de barriga vazia.
Agora não!
A Alice e eu comemos quase tudo, vamos oferecer comida aos outros piqueniques e o que sobra largamos na mata. Entretanto, besuntamos rissóis na cara dos homens, largamos molho do cozido na roupa deles para deixar nódoa, colocamos pedaços de presunto nas bocas e empurramos um pãozinho pelas goelas abaixo. Quado terminamos, faltam 10 minutos para as quatro e, aí, sim, relaxamos a fazer uma rendinha.
Eles acordam e devem estar com fome mas, já sabe como são os homens, nunca querem dar parte fraca; vêem as nódoas e sentem o sabor da comida e já só se preocupam com o Benfica.
É o meu momento preferido da semana.
Depois do Benfica, o meu homem regressa a casa e faz lá as coisas dele à minha cara, mas nunca mais o fez durante os piqueniques.

Adoro piquenicar. Adoro!

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Margarida e o Mestre

A PruX gosta tanto da Margarida. E de bifanas.

Mikhail Balakov, esse grande autor búlgaro da década de 90, traz-nos Margarida e o Mestre, um livro de ficção científica que tem tudo para ser um clássico da culinária.

Margarida é uma escritora com créditos firmados no BES. Porém, como o comum dos mortais, não leu as letras miudinhas do crédito, que diziam:
"O spread diminui ou aumenta conforme a qualidade literária: se é bom diminui, se é mau dispara."
E foi assim que começou a pagar juros como ninguém na história da literatura.
Em tempos haviam-lhe falado da possibilidade de recorrer a um mestre, que a pudesse orientar no caminho da qualidade. Foi assim que Margarida conheceu Joaquim.
Joaquim falava-lhe de gelados, de cabritos e da garagem da vizinha, mas nunca de literatura. Margarida era paciente: tinha visto o Karate Kid em criança e sabia que encerar carros ou pregar tábuas foram úteis para dar um pontapé, ainda que coxo. Mas afinal não tinha nada a ver. Joaquim confessou-lhe que era mestre, não de literatura, mas de culinária.
Margarida ficou devastada. Saiu de casa a correr, a chorar e a chupar num gelado de framboesa.

A não perder!

Da condição feminina e piqueniques


Após o término da temporada das refeições ao ar livre conclui-se:
 
Fazer piqueniques é trazer a casa para a rua, mas ter paredes mais bonitas.

Para ilustrar esta conclusão, leia-se o relato de D. Adosinda Henriques, acerca da preparação e realização do acto de piquenicar. Para ser lido em voz alta, numa voz estridente e arrastada (aquele arrastar de dores nas cruzes):

Adoro piquenicar!
Até parece blasfémia, que só se deve adorar a Deus.
Mas eu adoro. Pronto, está dito, está dito! Que seja esse o meu único pecado.
Gosto de tudo, sobretudo do descanso.
Levanto-me às 3 da manhã para sacudir as lonas das tendas, passar a ferro as toalhas de mesa e a roupa do meu homem, começo a tratar do cozido, a embalar o serviço de cozinha em papel de jornal, que o meu homem não gosta de comer em pratos de plástico, dou uma mangueirada na arca, por causa do cheiro, preparo o bolo de cenoura, meto o pão a fazer no forno a lenha, vou apanhar umas couves ao quintal para fazer o caldo verde... Nisto já devem ser umas 4, e eu para mim:
«Pára de mandriar, Adosinda, que isso é só para quando estiveres no piquenique!»
E lá continuo.
Boto três chouriças no caldo verde, outras três para assar mais logo, vou buscar a arca, já seca, e meto lá para dentro as cuvetes e as cervejas, volto ao quintal para apanhar umas pêras para a sobremesa, que ao meu homem nem lhe sabe a comida se não comer uma pêra bêbada no fim da refeição, aproveito para trazer as cadeiras e as mesas da garagem, ponho o óleo ao lume para os panados e para os rissóis e, nisto, já devem ser quase 5, e eu para mim:
«O que é que se passa contigo, Adosinda? Deu-te para malandra? Anda lá, faz-te à vida!»
Ouço dois peidos do meu homem vindos do quarto e sei que, vai não vai, está a levantar-se para tomar o pequeno-almoço. Começo a fazer o café, a cortar o pão e presunto e pôr a mesa. O cozido está quase pronto, o caldo verde já pode seguir para a porta com o tacho embrulhadinho com dois panos, aproveito para limpar e passar óleo nas cadeiras e nas mesas, meto o queijo, o presunto e o bagaço na ceira, e oiço o meu homem na cozinha a reclamar, que o café não está na chávena, e eu para mim:
«Estás a ver, Adosinda? Estás a ver o que dá ter a cabeça no ar?»
Corro para a cozinha, peço desculpa por ser assim estúpida, e volto aos meus afazeres. Começo a pôr tudo para dentro da carrinha: as duas tendas, uma para descansar, outra para a comida ficar à sombra, as quatro toalhas, as duas mesas, as seis cadeiras, o tacho do cozido e o tacho do caldo verde, a ceira com as chouriças, o presunto, o queijo e o bagaço, a arca com a cerveja, a cesta com o serviço de cozinha, os talheres e os copos, o tuperware com o bolo de cenoura, o prato com o pão, o saco com as pêras e, nisto, já são 6 da manhã, e eu para mim:
«Que grande gaita, Adosinda! A esta hora hás-de encontrar um belo sítio para o piquenique. Hás-de, hás-de! A esta hora já lá está a Gertrudes, a Madalena e a Amália, todas pimponas a ocupar as sombras todas.» 
Mas vamos à mesma, que já estava tudo combinado com a família.

(Continua aqui)

terça-feira, 11 de novembro de 2014

SMS histórica XVIII

No dia em que Hitler tentou um golpe contra o governo da Baviera e que levou à sua detenção, enviou uma SMS ao seu mais fiel sequaz, Rudolf Hess. Curioso como Rudolf Hess tem um apelido impróprio para se frequentar uma prisão.


Orgulho e Preconceito em Isabel Jonet

Então foi apanhada uma senhora a conduzir um Alfa pendular? Extraordinário! Espero que tenha sido a minha. Sempre seria mais fácil manter-se dentro da sua faixa. Ah! Ah! Que belo momento jocoso!

Por falar em senhoras que gostaríamos de ver em linhas de comboios, a PruX acaba de publicar a autobiografia de Isabel Jonet - Orgulho e Preconceito.

Vejamos esta belíssima passagem, em que Isabel fala da sua missão:

"Ninguém é educado para a fome. Aliás, na Quinta da Marinha, onde cresci, existem muros enormes e cães alimentados a estômagos vazios, que não permitem que a fome entre na nossa educação.
Provavelmente, até foi por isso que aceitei o desafio de liderar o Banco Alimentar: para eliminar esse flagelo que são as pessoas com fome.
Este é o momento de dizer: Basta!
No colégio fui vítima de bullying porque os meus colegas ouviram-me a tratar por tu a minha mãe. Foi um lapso que só ocorreu uma única vez e eles não perdoaram.
E o bullying continua. Agora, sempre que tenho um evento de distribuição de comida, sinto-me a gorda da turma. Eu, que até já cortei em tudo o que é hidratos! Mas as pessoas, mesmo vendo que eu me sinto desconfortável, não são capazes de um gesto, dum sorriso... Nada! Uma pessoa pode ter fome, mas ainda assim tem que ser bem-educada.
Ainda noutro dia, fui insultada numa distribuição de comida. A comida estava pronta para ser entregue aos coitaditos, mas era preciso que a comunicação social tirasse umas fotos comigo em frente às paletes. Primeiro, quis ver como tinha ficado em todas as fotos; depois, obriguei todos os fotógrafos a trabalharem as fotos em Photoshop, de modo a parecer mais magra; no fim, começo a ser insultada. É um escândalo!
E só não houve violência porque parece que a fome tira força às pessoas. Olhe, aqui está uma grande ideia para o Passos colocar em prática."

 Um grande testemunho!

A Odisseia só com as partes de Ítaca

Ulisses e as Sereias de Herbert James Draper, c. 1909
Entretanto, em Ítaca:

ULISSES: Querida, vou sair.
PENÉLOPE: Aonde vais?
ULISSES: Vou comprar cigarros.
PENÉLOPE: Estás doido? Olha que isso mata! Espera lá: mas tu não fumas!
ULISSES: Estava a brincar! Vou só ali participar numa guerra e já volto.
PENÉLOPE: Ah, estavas a assustar-me. Vai lá. Aproveita e traz pão, já que vais à rua.
ULISSES: Prometido.
PENÉLOPE (a pensar): Ainda bem que vai apanhar ar. Já estou farta do pó e serrim que vem da carpintaria, sempre a construir cavalinhos de pau. Um, ainda vá que não vá, para o Telémaco brincar. Agora, cinquenta? Ainda se fizesse um aparador para o hall de entrada...

Vinte anos depois

ULISSES: Querida, cheguei!
PENÉLOPE: Quem vem lá?
ULISSES: Sou eu, Ulisses, Odisseus para os amigos, rei de Ítaca e teu marido.
PENÉLOPE: Espero que estejas a brincar. O meu marido morreu.
ULISSES: Mas... Mas... Eu sou eu.
PENÉLOPE: Ai, sim? Prova-o!
ULISSES (começa a tirar as calças): Os teus desejos são ordens.
PENÉLOPE: Puxa as calças para cima! Não é nada disso!
ULISSES: Então?
PENÉLOPE: Onde está o pão?
ULISSES: Chiça! Esqueci-me! Vou buscar imediatamente.
PENÉLOPE: Nem penses! Vai à sala e limpa-a.
ULISSES: Está muito suja?
PENÉLOPE: Está cheia de pretendentes ao teu trono.
ULISSES: Ah, já entendi.
PENÉLOPE: Antes de ires, diz-me porque demoraste tanto.
ULISSES: Não vais acreditar: no final da guerra andei às voltas com o barco, até porque ainda não inventaram a bússola, depois fui sequestrado por uma deusa que me violou durante anos, depois fui parar a uma ilha cheia de ciclopes e espetei um tronco no olho de um deles, depois vieram as sereias...
PENÉLOPE: Basta! Chega de desculpas! E a guerra?
ULISSES: Espectacular! Construí um cavalo de madeira... Aonde vais? Ainda não acabei!
PENÉLOPE: Vai tratar dos pretendentes. Falamos depois.

Enquanto se afastava, Penélope não pôde deixar de sorrir. Não era importante a justificação da ausência; era importante a felicidade que sentia pela presença. Era o homem ideal, sempre pronto para a bravura e para a honra e, sobretudo, sempre disposto a ausentar-se. Ulisses nunca havia reparado que Penélope nada percebia acerca das tarefas domésticas e os pretendentes, que se haviam instalado no palácio na sua ausência, começavam a colocar em cheque os dotes de Penélope, ela que há dez anos tecia a mesma peça de roupa.

A Espuma do Dias Loureiro

Ui, ui! Que tema tão polémico!
Sobretudo, se ainda estivéssemos em 2011.

A PruX traz A Espuma do Dias Loureiro de Boris Vian Ici, uma trama ainda mais intrincada do que a teia de Penélope, essa quase desavergonhada.
Trata-se de uma história em yo-yo, que mete um russo, o Dias Loureiro e muita espuma.

Dias Loureiro adorava as quartas-feiras; sobretudo as discotecas às quartas-feiras; sobretudo as festas da espuma nas discotecas às quartas-feiras; sobretudo gostava de vestir o sobretudo nas festas da espuma nas discotecas às quartas-feiras; sobretudo, o gajo que escreveu isto queria usar a palavra sobretudo com ambivalência: sobretudo e sobretudo.

Irra!

Dias Loureiro não sabia o que o levava a procurar as festas da espuma, mas não lhes resistia. Talvez lhe tenha fugido da memória mas, ainda petiz, os amigos lançavam bolinhas de sabão pelo ar enquanto o obrigavam a beber o excesso de espuma feita de Sonasol.
Foi numa dessas festas que conheceu um cientista russo: Pavlov. Imersos na branquidão da discoteca, Pavlov soube por Dias Loureiro a sua vertigem pela espuma. Disse-lhe:
- Posso fazer com que não tenhas que procurar a espuma fora de ti. Eu consigo fazê-la brotar de ti.
Dias Loureiro não podia acreditar. Era o seu sonho. Porém, vinha com um preço:
- Para isso acontecer, tenho que accionar um mecanismo para te fazer espumar automaticamente. Sempre que alguém te oferecer dinheiro, tens que cometer uma ilegalidade. Só assim espumarás.
E o resto é história.
Consta-se que ainda hoje continua a espumar, apesar de ser extremamente difícil de o fazer no seco clima das Ilhas Caimão.

A não perder!

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

SMS histórica XVII

Logo após ter largado Little Boy sobre Hiroshima, o tenente-coronel que pilotava o Enola Gay enviou uma SMS à esposa:


domingo, 9 de novembro de 2014

O meu muro preferido


Comemora-se hoje o início do fim do muro que dividiu Berlim, a Alemanha e o mundo.
Quando era jovem, sempre que ouvia que existia um muro que dividia os alemães em dois, imaginava uma cena bíblica do tempo do rei Salomão, com filas de alemães mortos porque um muro os cortava em duas postas. E é muito engraçado chegar a 2014, e pensar que a minha imaginação ingénua de outrora passou a ser o meu desejo de adulto, quando penso em certas pessoas oriundas daquele belo país.

Porém, em termos de muros o meu preferido é o do som. Estou a falar do Wall of Sound, criado por Phil Spector durante a década de 60. Trata-se de uma revolucionária forma de captação de som em disco, tornando-o mais envolvente em AM e em reprodução em jukeboxes, mas que nunca abafou o som dos seus tiros em namoradas.

Todas as invenções têm falhas, mas as dos muros parecem falhar mais do que outras. 

Agarra-o Agora

A PruX também trabalha ao Domingo. Sobretudo para ter algo a dizer antes daquelas pessoas que colocam posts giríssimos, e que não irritam nada, acerca do facto de amanhã ser 2ª feira. A sério, ninguém deseja o vosso falecimento! Só eu! E, caso faleçam, que seja ao Domingo, para o funeral ser na 2ª. É que eu odeio segundas-feiras!
 
Agarra-o Agora de GuGa Santos vem em seu auxílio.
Trata-se de um livro que é um livreiro à antiga: ajuda-o a saber escolher livros.
No fundo, é um livro de auto-ajuda que tem como lema "Confia no teu cocó." Eu sei que pode parecer um lema básico, mas o substantivo "cocó" é o que me vem à cabeça sempre que pego num livro de auto-ajuda. Aliás, na minha cabeça é sempre um adjectivo.
E mais: como ingiro muito pão, tenho muitos momentos em que preciso de auto-ajuda.
Mas este "cocó" tem consistência!

O que GuGa Santos propõe é substituir todas as secções de uma livraria - Romances, Novelas, Teatro, Matemática, História, Filosofia, Micologia, etc. - por apenas duas:

A dos Livros-Peido e a dos Livros-Bufa.

Os Livros-Peido, diz o autor, são aqueles "que causam estrondo, polémica e muito ruido, com entrevistas dos autores por tudo o que é sítio. Os autores até ao Goucha vão! Um programa que levou as árvores preferirem ser papel higiénico em vez de livros! Enfim, tudo o que possa desviar a atenção do essencial: o livro. E no fim o que o livro oferece é apenas o estrondo incial: nada fica."

Os Livros-Bufa são os que interessam; são o que deixam rasto: na memória, na passagem de testemunho, no cheiro. "São os que vão para além dos livros, funcionam como os gases debaixo dos lençóis: quando pensas que o ambiente está controlado, eis que alguém os levanta e, sem querer, ficas com o quarto em quarentena de incenso e Air Wick."

Fica a sugestão.
Confia no teu cocó: Agarra-o Agora!

Acompanha a peça de teatro Édipo Rei com...

Se há coisas que odeio, mais até do que a austeridade, são aqueles prefaciadores que contam o livro todo antes de termos oportunidade de o ler. Bois!
Por isso, aconselho vivamente a peça de teatro Édipo Rei, de Sófocles, e sugiro que acompanhem a sua leitura com as seguintes ementas gastronómica e musical.

Sopa 
Sopa de legumes passada pela mãe

Prato principal
Entrecosto assado no forno, com um toque especial de especiarias pela mamã

Sobremesa
Bolo de bolacha caseiro

Bebida
Leite com três colheres de chocolate só como a mãe sabe fazer

Música de acompanhamento