sábado, 18 de outubro de 2014

O "azar" de Jackson

"Fogo, meu, que azar o penálti falhado pelo Jackson!"
Ouvi isto várias vezes e pensei: será que as pessoas sabem o que é azar, quando se referem a um chuto na bola que não entrou na baliza? Azar teve o Palinuro!
E quem é o Palinuro?
Não, não é um jogador romeno do Benfica dos tempos da Parmalat.
Palinuro é tão somente o piloto do barco de Eneias.
Eneias é o herói de um livro que, curiosamente, se chama Eneida.
Ora, Eneias, em dado momento da história, falece-lhe o pai e como ainda tinha algumas coisas para lhe dizer, decide fazer-lhe uma visita ao reino dos mortos. Sucede que, à entrada do reino, estava uma chusma de gente, vestida de sombras, à espera de entrar e que não o podia fazer por se encontrarem insepultos, algures espalhados pelo mundo. Se não fossem sepultados ficariam cem anos à espera de entrar no reino dos mortos, como se fosse um sítio onde houvesse pressa para entrar. Dentre esta gente encontrava-se Palinuro, que decide contar a Eneias como e onde faleceu.
E sucedeu desta forma:
Num dia de tempestade, estava Palinuro ao leme quando um vagalhão sacudiu o navio e o expulsou pela popa. Palinuro, em alto mar, em vez de estar preocupado com a sua sobrevivência, fica apreensivo com a sobrevivência dos que ficaram no navio. Acontece que, com a queda, Palinuro levou para o mar também o leme e pensa que, assim, ninguém poderá conduzir o navio. Com isto em mente, nada durante quatro dias e quatro noites até avistar terra.
Cansado, sem forças, com os companheiros no pensamento, deita-se na praia para descansar. Eis se não quando surgem os habitantes locais que, sem fazerem quaisquer questões, o matam com estocadas de espadas.
Agora, quando quiserem falar de azar, falem-me do Palinuro. Caiu de um barco, no meio de uma tempestade, sobreviveu em mar alto quatro dias e, quando encontra terra, é morto sem poder abrir a boca. Isto é que é azar!
Agora o Jackson! É metade falta de jeito e metade mérito do Patrício!
Azar teve o Palinuro! 

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