quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O fim da medicina: médicos em part-time


No regresso daquele que considero ser o melhor programa de entretenimento e informação - Last Week Tonight With John Oliver -, falou-se do grande esquema que as empresas farmacêuticas montam para atrair médicos, de modo a que estes passem a ser funcionários não oficiais das mesmas (deixo o vídeo no final do texto).

A classe médica não faz sentido. Ou pelo menos, não faz sentido nos termos atuais.
Quando saí de Aveiro para viver em Ovar tive que escolher um novo médico de família. E foi aqui que desenvolvi uma pequena teoria.
Quando perguntamos a alguém acerca do seu médico de família, o que é que nos respondem?
- O meu é muito bom, está sempre com boa cara, é simpático.
Ou:
- O meu não presta para nada, é um carrancudo de primeira!
E começa aqui o erro das pessoas: o facto de gostarem dos seus médicos, não por serem bons profissionais, mas porque dão ares de simpatia. O que é que o comum dos mortais percebe de medicina? Zero! E então vai julgar a sua apetência como médico em número de dentes mostrados numa consulta? É claro que existem os que são antipáticos no público e extremamente dóceis na sua clínica privada. Eu quero que estes se fodam!

O futuro da medicina devia passar por médicos:
1 - carrancudos;
2- que não fiquem contentes por me ver;
3 - que o queiram deixar de ser.
Passo a explicar:

1 - Ter um médico carrancudo implica que está assim por ter muitos pacientes. O que significa que estão à espera de atender muitas pessoas portadoras de doenças. Logo, eu quero um médico que fique chateado pelo facto de ainda existirem muitas pessoas doentes. Não estão assim com os pacientes, estão assim com a sua ciência, que não evolui em função da cura, em direção à eliminação da doença.

2 - Ter um médico simpático implica que este está contente pela doença, pois só por isso é que as pessoas o visitam. Ele diz: "Bom dia, senhor Américo!" mas pensa: "Olá meningite!" A doença é, segundo o senso-comum, uma coisa má. Por que razão existe ainda uma franja social que vive em função das doenças? E porque ficam contentes com isso? Não quero parecer redutor e dar a entender que os médicos gostam da existência das doenças. Também não é menos verdade que vivem delas. Qual seria o seu benefício na existência de pessoas totalmente saudáveis? Gostava de um dia entrar num consultório com uma faringite e ouvir: "Oh, Bruno, que grande porra! Nem quero acreditar que estás doente outra vez, meu merdas!"

3 - Ter um médico que queira deixar de o ser é ter um médico que procura a cura e exige, cientificamente, às farmacêuticas que os apaparica, que conduzam testes corretos, não apressem medicamentos para o mercado e procurem sempre a cura, nunca o remedeio ou a dependência química.

O futuro da medicina só seria coerente com a existência de médicos em part-time, pessoas que tiram um curso ou exercem um ofício diferente e se especializam em medicina. Um carpinteiro especializados em medicina dentária, um engenheiro civil especialista em cardiologia, um varredor de rua especialista em oftalmologia, etc.

Senão pensem bem:
Ter um médico feliz e simpático é como ter fome e comer um menu no McDonalds. Sim, mata-te a fome, mas não te traz muita saúde.


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