quarta-feira, 29 de abril de 2015

O revolucionário gastrónomo

Hoje vou recuperar a história de João Saavedra Castro, o revolucionário gastrónomo.

João cresceu com a avó materna em Faldejães, perto de Ponte de Lima. Os seus pais morreram no cerco franquista de Toledo, em 1936, a combater ao lado dos republicanos, algo que só soube quando fez 16 anos.

Terá sido por isso que quis também ele fazer parte de algo maior, de lutar por uma ideia. Corria o ano de 1956, quando João decidiu ser revolucionário. Portugal não oferecia grandes oportunidades para esta saída profissional, mas João ouviu falar de Castro e Guevara, em luta contínua desde 53.

Rumou a Havana. Faltava ainda 3 anos para a revolução chegar à capital. Foi então que João optou por conhecer as particularidades locais, antes de começar a combater ao lado de Fidel e Che. E o que aconteceu a seguir mudou o rumo da sua vida. Apaixonou-se pelo 'boliche', um prato cubano que consiste num rolo de carne assado com arroz de caril. De barriga cheia, já não lhe apeteceu fazer nenhuma revolução.

No entanto, dizia aos amigos que tinha participado noutras. Tinha estado no levantamento militar argentino, em 1970, e no golpe de Estado de Pinochet, em 1973. E ganhou reputação no meio clandestino comunista português, como o 'che lusitano'. O que os comunistas não sabiam é que 'che' significava 'cheirinhas', o revolucionário que ia ao cheiro das iguarias de países revolucionários.


O verdadeiro choque ocorreu em 1974, quando João Saavedra publica o seu primeiro livro.
No prefácio, lia-se:
"Para que precisamos de ideias quando temos 'charquican'. Um guisado chileno comido em comunidade faz brotar uma fraternidade entre as pessoas, que deixa as ideologias à porta. Aliás, com um bom 'charquican' comido no El Perro Loco de Santiago, qualquer pessoa esquece fronteiras, porque todos querem viver ali."

O livro "Adie-se a revolução porque estou a fazer a digestão" conheceu 7 edições em França e 3 em Portugal, sendo que uma delas foi adquirida pelo Comité Central do Partido Comunista Português, para uma queima pública, que decorreu na 2ª edição da Festa do Avante.

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