domingo, 3 de maio de 2015

JEOVAX e a venda de santuários


A 10 dias de se celebrar os 98 anos das aparições de Fátima, convirá desenterrar a história de outra Lúcia e do escândalo que abalou a Igreja, ao ponto de ter ditado o fim da monarquia em Portugal.

A pequena Lúcia sonhava subir aos palcos de revista à portuguesa, desde que foi em excursão a Lisboa para assistir à peça "D. Gordo e as perdizes", uma sátira à condição anafada do rei D. Carlos e à sua falta de tacto para governar o país.

É também nesta altura que a Jeovax começa a actuar em Portugal. Trata-se de uma congregação secreta do Vaticano, sob tutela directa do papa e que é especializada em imóveis. Mais especificamente, em santuários.

Vivia-se uma época pós-ultimato inglês e as tendências republicanas ganhavam cada vez mais força. Numa aliança secreta entre D. Carlos e o papa Leão XIII, a Jeovax chegou a Portugal para criar um santuário que unisse os portugueses em torno da Igreja e da monarquia devota.

O local escolhido foi Açude de Agolada, nas imediações de Coruche, onde viviam seis famílias. Escusado será dizer que uma delas era a família de Lúcia. A Jeovax abordou Lúcia e perguntou-lhe se queria ser actriz logo a partir daquele momento. Lúcia aceitou e entrou na teia, que hoje é bem conhecida.

A Jeovax tinha um modus operandi  que consistia em 10 passos:
#1 - Escolher um local semideserto com boa profusão de luz e som. Neste caso, a zona selvagem e despovoada de Açude.
#2 - Contratar uma actriz - Lúcia.
#3 - A actriz engole 666 pirilampos.
#4 - Por meio de chupas ou rebuçados, fazem 2 ou 3 crianças aparecerem no local inóspito. Esta prática levou a que se dissesse às crianças, praticamente até aos anos 50 do século passado: "Não aceites doces da Jeovax". E só mais tarde se substituiu 'Jeovax' por 'estranhos'.
#5 - A actriz surge no topo de uma árvore a crianças, reluzente, com uma mensagem que diz ser de Deus.
#6 - Deixar o buzz marketing surtir efeito. O boca a boca é enfatizado pelo pároco local.
#7 - Organizar excursões ao local, com nova aparição da actriz, agora mais reluzente, causando cegueira colectiva.
#8 - As terras, até então propriedade privada, passam para as mãos da JEOVAX, por uso capião da fé.
#9 - Investimento em infraestruturas para valorização do terreno.
#10 -  Possibilidade de franchising.

As aparições de Açude de Agolada foram presenciadas apenas por republicanos que, como bons cépticos, desconfiaram. Estávamos no período pascal de 1902 e a suspeição foi confirmada numa peça de teatro na escola primária de Coruche. As filhas de dois dos republicanos presentes nas aparições faziam parte do elenco da peça "Morra o nazareno, viva a República", encenada por Afonso Costa, que contava, igualmente, com Lúcia, no papel de Maria. Lúcia andava adoentada pela ingestão abusiva de pirilampos e, nessa noite, teve uma representação intermitente. Neste caso, foi intermitente de forma literal: o corpo dela brilhava como as luzinhas da árvore de Natal. Os dois republicanos juntaram dois mais dois e esperaram Lúcia no final da peça. Ela confessou.

A Jeovax desapareceu do país e D. Carlos foi assassinado em 1908. Em 1910, a República foi implantada no país e a primeira medida do governo provisório de Teófilo Braga foi o extermínio dos pirilampos do nosso país. Entre 1910 e 1917, não houve qualquer avistamento de pirilampos na nossa paisagem. Até que aconteceu Fátima.

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