quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Fogo na mata!



Entrámos na época dos fogos. Estamos naquela altura do ano em que jantamos ao som do Comandante dos Bombeiros Voluntários de Figueiró dos Vinhos, que passa férias na nossa televisão o Verão inteiro. 

Este é um texto que apela ao português que se emprega quando se fala de fogos, que fala de pirómanos e que apresenta uma saída para o problema.

Comecemos por uma lição de português. Quando vemos uma notícia de fogo, fala-se quase sempre de fogo-posto. É errado atribuir o termo ‘posto’, como se o fogo fosse um ‘posto’ que tem que ser ocupado todos os verões, como se tratasse de um nadador-salvador. Está errado! Se calhar, é por isso que a nossa sociedade trata cada vez pior os idosos. Quando dizemos que “a velhice é um posto”, podemos estar a associar inconscientemente que a velhice é igual a um fogo na mata – é mau e tem que ser eliminado. Neste último caso, Passos Coelho é bastante mais eficaz do que os bombeiros, no combate aos ´postos´.

A minha sugestão seria alterar o termo. Por exemplo, podia ser ‘fogo-colocado’. Pensando bem, este ainda seria pior. Os professores poderiam pensar que significaria abertura de vagas e seria o desastre total. O flagelo de professores não colocados é bem maior do que o de pirómanos sazonais.

Podemos atribuir um nome feio, como ‘fogo-cabrão’, ou ‘fogo mau-mau’, ou mesmo ‘fogo-lisandra’.

Passemos ao ponto dos pirómanos. Falamos de pessoas que, para além daquele problema com fósforos e bidões de gasolina, têm uma falta de educação enorme. Sobretudo, histórica! Porque um gajo que tem o complexo de Nero e que pode ser mesmo conhecido como o Nero de Alvor, não tem noções de conjuntura. Já para não falar que o pirómano português não respeita a cultura do seu país. Sempre que ouvem Camões, cospem para o chão em desdém. Sobretudo, quando ouvem que o “Amor é fogo que arde sem se ver.” Para eles, o amor é para maricas comos os poetas, porque procuram um sentimento que não se alastra por hectares. E acrescentam que os únicos sentimentos bons são os visíveis: fogo numa encosta, herpes genital e vídeos de gatinhos a tropeçar em degraus. Mas voltemos à falta de educação histórica.

Primeiro, se entra num pinhal como Nero a pensar que vai ver Roma a arder, há que explicar ao senhor que Roma era um pouco mais evoluída – já conheciam a argamassa e tudo. Se lhe derem formação, ele é bem menino para substituir as escarpas do Marão por Meróbriga ou Conimbriga, o que facilita o trabalho dos bombeiros, até porque a azulejaria demora mais a queimar do que uma acácia. 

 Segundo, pode olhar para os pinheiros e imaginar que são Joanas D’Arc mesmo a merecer uma chama no bucho. Cá esta: um pouco de formação para combater a anacronia e, porque não, dar-lhe oportunidade para ter um tête-a-tête com a Sónia Brazão, para ver se ela tem amigas que curtam cenas kinky’s com garrafões de gasóleo agrícola.

No fundo, pede-se aos pirómanos que não se desviem da sua vocação, mas que foquem os seus objetivos de maneira a não aleijar árvores e, ao mesmo tempo, enriquecem o currículo com formação em História. Ficam com tudo o que precisam para trabalharem como caixa no Pingo Doce.

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