quinta-feira, 26 de março de 2015

A Última Papa

Morreu Luís Miguel Rocha. Depois de Herberto Helder, outro autor português morre na mesma semana.

Colocar Luís Miguel Rocha e Herberto Helder na mesma frase só é possível perante 3 cenários: lançaram um livro na mesma semana; estão no catálogo da mesma editora; faleceram em datas próximas. Infelizmente, foi a última e só possível devido à maior das crueldades da humanidade: a doença.

Tive oportunidade, enquanto livreiro, de conversar, ainda que fortuitamente, com o autor. Simpático, acessível e sempre de bom humor.

Enquanto escritor, não é do meu agrado. Como costumava dizer, joga na segunda divisão de José Rodrigues dos Santos e de Dan Brown. Porém, os três jogam também um desporto diferente de Herberto Helder. O poeta joga a 10 no Barcelona de Guardiola, enquanto os 3 jogam a suplentes na selecção nacional de boccia. Sim, é verdade que dá mais prémios a Portugal, mas não é por isso que vou perder o meu tempo a ver.

Dito isto, gostaria de dedicar a Luís Miguel Rocha um remake do seu livro, como é apanágio deste que se assina. 

(Coloquem uma voz de trailer de cinema)
Conheçam "A Última Papa", um thriller que revela o plano secreto desse grupo restrito de pessoas - OS PAIS - e que têm um propósito escondido para os seus filhos. 
Zezinho, um bebé que está prestes a fazer 4 meses, vai ver o seu mundo desabar, quando Marlene e Toni, seus pais, lhe apresentam... A Ultima Papa! Depois disso, Zezinho terá que começar a comer, pasmem-se, sopa
- Uááááááá!!!! - grita o Zezinho.
Couves!
- Uéééé! - varia o choro o Zezinho.
E fruta esmigalhada!
- Gu gu dá dá! - fica agradado o Zezinho.
Mas não é papa!
- Uáááááá! - repete-se o Zezinho.
Venha conhecer "A Última Papa", o plano diabólico dos pais de alimentar os filhos com coisas que sabem menos bem que as papas.

Até breve, Luís.

Música para a história


Há músicas ou álbuns que beneficiaram de factos e tornaram-se na banda sonora de marcos históricos. O que seria da Guerra do Vietname sem o What's Goin'On de Marvin Gaye ou o 11 de Setembro sem o Rising de Bruce Springsteen? Os melómanos agradecem: a música e os eventos. Mas o contrário também é verdade. Há factos históricos que se arrependeriam, se soubessem as músicas que foram feitas em sua honra. Ora vejamos:

#1 - Amor de Água Fresca de Dina

Esta foi a música que me afastou da salada de fruta. Até à música vencedora do Festival da Canção de 1992, eu via a fruta como fonte de vitaminas e de imposição saudável por parte dos adultos. Ora, ainda não tinha visto o filme Nove Semanas e Meia e quando ouvi a Dina cantar

"Foi na manhã acesa em ti, abacate, abrunho.
 E a pêra francesa, romã, framboesa, kiwi
 Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
 Vem cá tenho sede, quero o teu amor d'água fresca"

Operou-se uma mudança em mim. Aquela fruta tinha uma conotação sexual, quando devia ser só digestiva. E o pior é que vinha de uma senhora que parecia um senhor, o que me deixava ora excitado, ora extremamente confuso. E vim a saber que isto não aconteceu só comigo. Tenho para mim que o senhor que inventou a salada de fruta devia estar a dar voltas no seu túmulo, o senhor Fruit Saladens.

#2 - I Will Always Love You de Whitney Houston

A música que marca o filme O Guarda-Costas (Bodyguard, para os cagões), foi também o início dos abusos de estupefacientes por parte de Whitney Houston. Ora, acontece que Whitney contracena neste filme com Kevin Costner e, como se trata da sua primeira experiência de actuação, decidiu conhecer o trabalho do actor. Escolheu Danças com Lobos, a versão do realizador. Antes do primeiro diálogo, já Whitney tinha esgotado o stock dos armazéns de Bogotá, só para combater o tédio. A única forma que arranjou para se vingar de Costner foi compor a música do filme, que tem uma mensagem de dor associada:

"And I (e Ai!) Will Always Love You (Uhhhhh uh uh)"

Cá está: "Ai" de dor e "Uhhh" alusivo aos lobos.

#3 - Do They Know It's Christmas de Bob Geldof

Não há muito a dizer sobre esta música, apenas que é repetida até à exaustão em todos os Natais. Bob Geldof escreveu-a depois de ver uma reportagem sobre a fome na Etiópia. O que eu vi foi o Bono igualzinho ao Zed da Academia de Polícia. Aposto que os colonizadores teriam feito África de forma diferente, se fosse para  não ouvir a música em todos os shoppings do mundo.

#4 - We Are The World de Michael Jackson e Lionel Ritchie

Uma música que começa com "We Are The World, We Are The Children" e é composta por Michael Jackson. Até o Bibi foi mais discreto. Ter o Lionel Ritchie aqui serve também para lembrar que a sua música Hello deve ter feito Alexander Graham Bell ter-se arrependido da invenção do telefone.

#5 - Candle in the wind de Elton John

Este é o single mais vendido de todo o sempre. É o tema cantado no funeral de Diana que não é um original. Elton John já o havia composto para Marilyn Monroe, uma senhora que viveu à sombra de uma aparência e... afinal, era só isto. No fundo, Elton requentou uma música. Eu sei que devia ter começado este argumento com "Elton John tocou uma balada num funeral" e bastava, porque toda a gente compreendia o grau de catástrofe. No fundo, se Diana Spencer soubesse de Candle In The Wind nunca teria entrado no tunel e até tinha ceado com os paparazis.

terça-feira, 24 de março de 2015

Herberto

Morreu Herberto Helder, um dos grandes da poesia portuguesa.
Falamos de um autor que conhecemos pelo que escreveu e nunca pelo que disse. O que é de louvar, num meio literário cada vez mais dotado de espetáculo e menos de literatura.
Convém não esquecer que foi um autor que nunca pensou nos seus leitores. Isto é, ao exigir às editoras edições únicas das suas obras, isto fez que estas voassem das livrarias sem chegar às mãos de quem gosta de ler as suas palavras. Isto tem tanto de verdade como de mentira. Porque os seus leitores existem. Mas existem depois de comprar os seus livros ao triplo do preço, em mercados de segunda mão.
Dito isto, fico duplamente triste. Triste pelo vazio da sua partida e também pelo marketing que se estava a gerar em torno da sua próxima obra. Pelos vistos, o novo livro não seria de edição limitada. Porém, assim que o leitor terminasse o livro, este autodestruir-se-ia como as mensagens da série "Missão Impossível".
O funeral realiza-se amanhã e tem um número limitado de pessoas que podem prestar a sua homenagem. O corpo encontra-se, a partir desta tarde, em câmara ardente durante 8 segundos e, após os quais, segue-se uma sessão de leitura de poemas de Manuel António Pina, só porque não se encontraram livros do próprio Herberto nas livrarias do país.
Deixo-vos com uma foto de um fã, publicada aqui há uns meses, porque um javali também tem sensibilidade, caralho!
Até sempre, Herberto!