sexta-feira, 26 de julho de 2013

Anatomia da Politeia

A política não se aprende em Ciência Política.
Tudo o que precisamos de aprender acerca do nosso sistema democrático aprendemos em Ciências da Natureza, no 5º ano. Mais especificamente, quando tratamos do tema: aparelho digestivo.
Senão veja-se:

      1. Trato gastrointestinal superior
  • A política começa na boca - eleições implicam eloquência, retórica, promessas: os víveres políticos.
  • Umas vez findadas as eleições, os vencedores, juntamente com os seus víveres políticos, afastam-se da realidade exterior para se imiscuirem numa realidade interior (faringe), onde antes transformam os víveres num bolo alimentar homogéneo, numa massa que não permite distinguir promessas originais, que é necessário para entrar no corredor do poder (esófago).
  • Chegados ao gabinete do poder (estômago), são instados a tomar uma decisão por quem os patrocinou (secreção gástrica), de modo a saberem que rumo vão tomar. 
      2. Trato gastrointestinal inferior
  • No gabinete do poder (estômago), o bolo alimentar já não é o que era antes de entrar na boca e é apenas aquilo que a secreção gástrica deixa ser.
  • Dois caminhos se colocam: tomar a decisão correcta, mas ter que deambular pelas infindáveis curvas do intestino delgado; ir pelo caminho mais fácil de salvação individual e percorrer o trilho rápido da luz ao fundo do túnel (intestino grosso).

MORAL DA HISTÓRIA: Não existe, fala-se de política
AMORAL DA HISTÓRIA: Isto vai dar merda 

Já não temos que esperar
neste governo insolente
mais que perecer a gente
sem o bem nunca alcançar;
só para Deus apelar
pode o povo português
e pedir-lhe desta vez
que nos dê governo novo,
para que com ele o povo
siga no seu natural.
Este é o bom governo de Portugal.
Gregório de Matos, 1713

Transcendência e Repartições de Finanças

Há quem comungue em igrejas, o Javali comunga em repartições das Finanças.
Trata-se de uma prática recente. Desde o último 13 de Maio, para ser mais específico, também conhecido como o dia em que o Javali viu a luz.
Na verdade, foi coincidência pois a prática recente de 'dijei-ing' fazia com que o Javali visse poucas vezes a luz do dia.
No dia em questão, o Javali foi convocado pela Autoridade Tributária e Aduaneira para se apresentar na repartição de finanças da sua área de residência, de modo a explicar divergências no seu IRS.
E o que parecia um dia normal das finanças: espera, espera, espera, "Ai, esse problema não se resolve aqui, meu senhor! Tem que subir até ao 3º andar, virar duas vezes à direita, quatro à esquerda, caminhar até ao fundo do corredor, descer as escadas até este andar e dirigir-se ao guichê aqui ao lado. Como não percebeu? Pffff!" Espera, espera, espera. "Não, não! Como é óbvio não é aqui! Tem que fazer o percurso inverso e voltar a este guichê, iniciando a conversa com as palavras certas, de modo a eu entender." Mais espera, um copo de água com açúcar e sair de lá volvido um mês: depressa se tornou num dia especial.
Quando cruzou a porta de saída, o Javali reparou que os funcionários que o atenderam estavam no momento de pausa, a chupar SG Ventil's. E foi uma revelação: eles movimentavam-se como pessoas normais e não em câmara lenta, falavam e não grunhiam e, cúmulo dos espantos, sorriam!
O Javali inexplicavelmente estava inundado por uma felicidade pura.
Isto significava a presença de algo transcendente dentro de portas das Finanças. Algo que, de certa forma, sugava a vida dos funcionários e os transformava em mentecaptos com sintomas de idiotia. Eles só podiam estar ao serviço de algo maior.
Desde então, o Javali foge ao fisco, de modo a ser frequentemente convocado para o seu templo de espiritualidade.