Sempre me senti diferente.
Acontece que nasci como quase toda a gente: solteiro.
À medida que fui crescendo, vi que tinha que ganhar gostos, não só nos posts do Facebook, mas para a vida real: escola, trabalho e hobbies.
Havia também que eleger fetiches.
Experimentei: podolatria, mas era alérgico a queijo e aos laticínios em geral; frotteurismo, rapidamente abandonado pela aquisição de pé-de-atleta na glande; tricofilia, extinto em meados de 2005 com a massificação da cultura brazilian wax.
Na verdade ainda pensei experimentar outras parafilias, mas nunca as senti como minhas.
Tinha que criar o meu fetiche.
Foi então que me lembrei do STATU-CIVITAFILIA.
Isso mesmo: fetiche por estados civis.
Iniciei-me pelo estado que os meus pais me ofereceram à nascença, que eles também não tinham muitas posses.
1. SOLTEIRO, com dois momentos distintos:
a) solteiro narcisista: também conhecida por: "Os Gloriosos Tempos do Masturbador Compulsivo";
b) solteiro generoso: oferenda de inúmeras bebidas a outro sujeito solteiro, por norma gajas, possibilitando interacção sexual a dois ou a um, dependendo de graus de consciência.
Esta fase durou entre os 13 e os 19: estava desejoso de passar à fase seguinte. E correu tudo segundo os meus planos: queria casar duas vezes: uma por amor, outra por interesse.
2. CASADO (POR AMOR):
A Rosana era a mulher da minha vida: bonita, interessante, gostava das mesmas bandas, dos mesmos livros e tinha fetiche por homens unitesticulares: tínhamos tudo em comum.
Mas eu tinha um objectivo: divorciar-me.
Foi espectacular, nada fácil, mas espectacular.
A Rosana não estava nada à espera, até porque o nosso amor era do tamanho do mundo.
Eu disse: "Quero o divórcio." Ela disse que eu devia estar brincar, que nós brincávamos imenso, e virou-me costas.
Não sabia o que havia de fazer para que ela me levasse a sério. Foi então que optei por um acto em grande.
Aos domingos costumávamos almoçar em casa dos pais dela e, naquele dia de Páscoa, decidi chegar mais cedo. Quando a Rosana entrou, deparou-se com uma cena fabulosa: eu a esganar o pai enquanto lhe violava a mãe.
Ela lá me levou a sério e deu-me o divórcio, cumpria eu o primeiro dos dez anos de prisão.
Agradeci e disse-lhe que, lá por já não sermos marido e mulher, podíamos manter uma relação de amizade. Afinal, éramos ambos adultos.
A situação que me causou maior estranheza foi a dos pais da Rosana: nunca mais me dirigiram a palavra. E eu que costumava levar a velha ao mercado todos os Sábados.
(continua)
sexta-feira, 10 de maio de 2013
quinta-feira, 9 de maio de 2013
O escritor que se esqueceu de escrever IV
(continuação da continuação da continuação - parte 3 aqui)
Acompanhado do fotógrafo Manuel Araújo, depressa se apercebe que está a ver o Peru mas com a cabeça na Turquia. Decide escreve sobre a Turquia, desde o Peru. Um livro que começa em Arequipa, depressa se transfere para Diyarbakir. No tema mais quente, encontramos a refutação da teoria de Nuno Rogeiro acerca da condição curda, desde logo porque o comentador televisivo opina sentado e, como sublinha Bruno, só se pode ter ideias precisas sobre curdos quando se está de pé.
O livro conta com duas edições, uma de texto e outra ilustrada com fotografias, tendo sido a última totalmente devolvida pelos leitores, pois pensaram que o livro estaria danificado - a imagem de Machu Pichu estava lado a lado com um texto sobre Izmir, entre outros exemplos semelhantes.
O livro foi traduzido para turco, castelhano, quíchua e aimará, sendo um best-seller tanto na Turquia como no Peru. Nestes países sucederam-se várias edições, todas para queimadas públicas: na Turquia, pela defesa de um estado independente curdo por parte do autor; no Peru, por adultério nacional, isto é, por não se admitir que as pessoas que vão ao Peru possam estar a pensar noutros países. Esteve para ser traduzido para inglês, mas o tradutor teve um colapso nervoso logo na tradução do título: Peru ou Turkey, eis a questão.
Nenhuma das crónicas contém qualquer teor político, sendo a tónica comum as temáticas ligadas a escritores e seus vícios. Podemos aqui encontrar textos como: Hemingway Era Um Duro Mas Tomava Ulcerim Antes do Jantar; O Batom de Capote; Nabokov Tingia as Asas das Borboletas com Cores Ocres; Não Fui Eu: Escrita Directa de Fernando Pessoa.
Consiste num diálogo de impropérios entre dois vizinhos, ambos mudos, que se insultam em linguagem gestual através da parede que divide as suas casas. O público é convidado a seguir a peça por um libreto, que contém os diálogos em braille.
O autor pediu a reserva das filas A e C, par e ímpar, do 1º balcão, para a FPAS (Federação Portuguesa das Associações de Surdos). Verificou-se que foram estas as filas que permitiram uma melhor compreensão para o resto do público: sempre que se riam, contagiavam a plateia e os camarotes, e parte do 2º balcão.
(continua a continuar a continuação aqui)
- Capadócia Vista do Subsolo (2018), literatura de viagens
Acompanhado do fotógrafo Manuel Araújo, depressa se apercebe que está a ver o Peru mas com a cabeça na Turquia. Decide escreve sobre a Turquia, desde o Peru. Um livro que começa em Arequipa, depressa se transfere para Diyarbakir. No tema mais quente, encontramos a refutação da teoria de Nuno Rogeiro acerca da condição curda, desde logo porque o comentador televisivo opina sentado e, como sublinha Bruno, só se pode ter ideias precisas sobre curdos quando se está de pé.
O livro conta com duas edições, uma de texto e outra ilustrada com fotografias, tendo sido a última totalmente devolvida pelos leitores, pois pensaram que o livro estaria danificado - a imagem de Machu Pichu estava lado a lado com um texto sobre Izmir, entre outros exemplos semelhantes.
O livro foi traduzido para turco, castelhano, quíchua e aimará, sendo um best-seller tanto na Turquia como no Peru. Nestes países sucederam-se várias edições, todas para queimadas públicas: na Turquia, pela defesa de um estado independente curdo por parte do autor; no Peru, por adultério nacional, isto é, por não se admitir que as pessoas que vão ao Peru possam estar a pensar noutros países. Esteve para ser traduzido para inglês, mas o tradutor teve um colapso nervoso logo na tradução do título: Peru ou Turkey, eis a questão.
- Crónicas em Apneia (2019), crónicas
Nenhuma das crónicas contém qualquer teor político, sendo a tónica comum as temáticas ligadas a escritores e seus vícios. Podemos aqui encontrar textos como: Hemingway Era Um Duro Mas Tomava Ulcerim Antes do Jantar; O Batom de Capote; Nabokov Tingia as Asas das Borboletas com Cores Ocres; Não Fui Eu: Escrita Directa de Fernando Pessoa.
- O Verdugo Não Quer Ser Porteiro (2021), teatro
Consiste num diálogo de impropérios entre dois vizinhos, ambos mudos, que se insultam em linguagem gestual através da parede que divide as suas casas. O público é convidado a seguir a peça por um libreto, que contém os diálogos em braille.
O autor pediu a reserva das filas A e C, par e ímpar, do 1º balcão, para a FPAS (Federação Portuguesa das Associações de Surdos). Verificou-se que foram estas as filas que permitiram uma melhor compreensão para o resto do público: sempre que se riam, contagiavam a plateia e os camarotes, e parte do 2º balcão.
(continua a continuar a continuação aqui)
Prémio Taveira
Temas para o sucesso na escrita:
1936:
Tzvi Castillo encontrava-se de férias em Sevilha.
Gonzalo Queipo de Llano, chefe militar de Franco para a Andaluzia, repara em Tzvi.
Bem, repara que a cidra de Tzvi tem mais espuma que a sua.
Tzvi abandona a Bodega Olé e sente a necessidade de fugir.
1941:
Já instalado na pacata vila de Oświęcim, no sul da Polónia, cruza-se com o que parece ser um cidadão alemão.
Sem reparar que o chão da mercearia ainda se encontrava húmido, escorrega e vai de encontro à cabeça do alemão.
Ficam ambos azamboados:
Tzvi: - Peço desculpa, culpa minha.
Alemão: - Mas... mas... são dois! E iguais!
Tzvi: - Ah, mas está a ver a dobrar. Vou já chamar um médico.
Alemão: - Não é necessário. Eu sou médico.
Tzvi: - Ah, sim? Por acaso não tenho andado bem. Dá consultas onde?
Alemão: - Em Birkenau.
Tzvi: - Tem cartão?
Alemão: - Aqui tem.
Tzvi não chegou a visitar aquele médico, de nome Mengele, pois deixou a cidade: os seus pulmões já não aguentavam o cheiro a queimado.
1960:
Muda-se para África onde o ar era mais puro.
Instala-se num chalet em Porto Amélia, onde passa os dias a consumir cerveja guineense e cacau santomense. Vive da produção de camarão tigre em viveiro e do tráfico de diamantes angolanos. Conta com a ajuda de dois pajens goeses.
Quando começam os combates, rebentam minas pessoais nas redondezas do chalet. Muitos dos combatentes aterram às peças nos viveiros. Com a nova dieta dos camarões tigres, um deles começa a crescer desmesuradamente. Baptizado de Godzila, Tzvi vende-o a um casal de japoneses que se encontrava de férias na zona.
1970:
Perante a escassez de serviços de limpeza de vísceras, Tzvi usa o dinheiro para se mudar para os Estados Unidos.
Em Nova Iorque conhece uma lituana sobrevivente de gulag, durante a vigência estalinista, por quem se apaixona e vem a casar. Adquire a nacionalidade americana numa loja da cadeia Walmart, após mostrar que estava dentro do peso médio.
Após a publicação, surge a primeira crítica no suplemento Ipsilon:
"Este é um escritor que mete tudo lá dentro."
- Em Portugal: Guerra Colonial e derivados, que é como quem diz: retornados, Angola, Moçambique e Guiné;
- Em Espanha: Guerra Civil Espanhola;
- Nos Estados Unidos: ser americano;
- No Japão: estabelecer dicotomias entre o tradicional e o moderno vestido de seda, ou falar do exótico da Ásia - relações com gueixas, monstros, karaté kid;
- Na Europa: posicionamento anti-nazi, de preferência com personagens que tenham estado em Auschwitz ou nas filiais.
1936:
Tzvi Castillo encontrava-se de férias em Sevilha.
Gonzalo Queipo de Llano, chefe militar de Franco para a Andaluzia, repara em Tzvi.
Bem, repara que a cidra de Tzvi tem mais espuma que a sua.
Tzvi abandona a Bodega Olé e sente a necessidade de fugir.
1941:
Já instalado na pacata vila de Oświęcim, no sul da Polónia, cruza-se com o que parece ser um cidadão alemão.
Sem reparar que o chão da mercearia ainda se encontrava húmido, escorrega e vai de encontro à cabeça do alemão.
Ficam ambos azamboados:
Tzvi: - Peço desculpa, culpa minha.
Alemão: - Mas... mas... são dois! E iguais!
Tzvi: - Ah, mas está a ver a dobrar. Vou já chamar um médico.
Alemão: - Não é necessário. Eu sou médico.
Tzvi: - Ah, sim? Por acaso não tenho andado bem. Dá consultas onde?
Alemão: - Em Birkenau.
Tzvi: - Tem cartão?
Alemão: - Aqui tem.
Tzvi não chegou a visitar aquele médico, de nome Mengele, pois deixou a cidade: os seus pulmões já não aguentavam o cheiro a queimado.
1960:
Muda-se para África onde o ar era mais puro.
Instala-se num chalet em Porto Amélia, onde passa os dias a consumir cerveja guineense e cacau santomense. Vive da produção de camarão tigre em viveiro e do tráfico de diamantes angolanos. Conta com a ajuda de dois pajens goeses.
Quando começam os combates, rebentam minas pessoais nas redondezas do chalet. Muitos dos combatentes aterram às peças nos viveiros. Com a nova dieta dos camarões tigres, um deles começa a crescer desmesuradamente. Baptizado de Godzila, Tzvi vende-o a um casal de japoneses que se encontrava de férias na zona.
1970:
Perante a escassez de serviços de limpeza de vísceras, Tzvi usa o dinheiro para se mudar para os Estados Unidos.
Em Nova Iorque conhece uma lituana sobrevivente de gulag, durante a vigência estalinista, por quem se apaixona e vem a casar. Adquire a nacionalidade americana numa loja da cadeia Walmart, após mostrar que estava dentro do peso médio.
Após a publicação, surge a primeira crítica no suplemento Ipsilon:
"Este é um escritor que mete tudo lá dentro."
quarta-feira, 8 de maio de 2013
O escritor que se esqueceu de escrever III
(continuação da continuação - parte 2 aqui)
Ante a possibilidade de ser questionado acerca dos seus livros, que não escreveu e de que apenas tinha o esboço mental inicial, Bruno refugiou-se no desconforto do seu lar.
Foi em clausura que foi sabendo do crescimento do seu corpus bibliográfico, da atribuição de prémios e do volume de vendas. Eis o que não escreveu, segundo o que os jornais foram destacando:
Uma história que tem como pano de fundo a guerra colonial, uma vez que o protagonista Emídio Sá tem problemas identitários por apenas ter nascido em 1975 e nunca ter participado na supracitada guerra.
Contou com quatro edições em território nacional e foi traduzido para cinco línguas: castelhano, francês, suaíli, mirandês da Rua Direita e mirandês de arrabaldes.
Laureado com o Prémio LeYa, sobre o qual o júri Pepetela disse: "É um livro." Esta é uma frase sintomática e, como se sabe, altamente intelectual, desde que dita em voz alta e com sotaque crioulo.
Ideologicamente frustado pelo resultado das revoluções em que participou, sentia-se, pelo contrário, gastronomicamente preenchido. É então que abandona o comunisno e adere ao 'charquicanismo'.
O sabor do guisado chileno leva-o a tornar-se escritor de guias gastronómicos de países ditatoriais. O seu maior sucesso foi Adie-se a Revolução Que Estou a Fazer a Digestão.
Contou com sete edições em território nacional e uma nas Berlengas, sendo traduzido para oito línguas: castelhano, francês, surinamês, quíchua, catalão, coreano, língua dos P's e português adaptado a ciciosos.
Segundo lugar no Prémio Portugal Telecom, ficando atrás do escritor brasileiro Vasco Prazeiroso (descendente da tribo Kambeba), para o qual já havia perdido no ano anterior o Prémio José Saramago.
Contou com duas edições antes de 2025 e treze após essa data. Não foi traduzido para qualquer língua, apenas adoptado em forma de folhetim nas escolas básicas do Estado americano do Texas, pois o desenho citado ilustrava para os texanos aquilo que os colonos fizeram à etnia de Vasco Prazeiroso.
Recebeu a chave da cidade de El Paso, por serviços prestados ao Estado do Texas, na categoria Primeira Metáfora Compreendida e Assimilada Sem Ter Que Sacar do Revólver, numa cerimónia que culminou com oitocentas rajadas de metralhadora e apenas cinco mortos.
(continua a continuar aqui)
Ante a possibilidade de ser questionado acerca dos seus livros, que não escreveu e de que apenas tinha o esboço mental inicial, Bruno refugiou-se no desconforto do seu lar.
Foi em clausura que foi sabendo do crescimento do seu corpus bibliográfico, da atribuição de prémios e do volume de vendas. Eis o que não escreveu, segundo o que os jornais foram destacando:
- A demanda em marcha-atrás (2014), romance
Uma história que tem como pano de fundo a guerra colonial, uma vez que o protagonista Emídio Sá tem problemas identitários por apenas ter nascido em 1975 e nunca ter participado na supracitada guerra.
Contou com quatro edições em território nacional e foi traduzido para cinco línguas: castelhano, francês, suaíli, mirandês da Rua Direita e mirandês de arrabaldes.
Laureado com o Prémio LeYa, sobre o qual o júri Pepetela disse: "É um livro." Esta é uma frase sintomática e, como se sabe, altamente intelectual, desde que dita em voz alta e com sotaque crioulo.
- Quando cheguei eram duas horas antes (2015), romance
Ao segundo livro chega a afirmação de Bruno como escritor.
Emiliano Salas, filho de republicanos espanhóis, mortos durante o cerco de Toledo em 1936, decide ser ele próprio revolucionário, sob inspiração de Guevara e do peyote. Depois de falhar a participação na revolução cubana de 1959 por falta de visto, foi combatente nos levantamentos militares da Argentina, Chile, Nicarágua e Panamá. Emiliano tinha a particularidade de chegar cedo às revoluções e aproveitava esse tempo para conhecer a gastronomia local. Ideologicamente frustado pelo resultado das revoluções em que participou, sentia-se, pelo contrário, gastronomicamente preenchido. É então que abandona o comunisno e adere ao 'charquicanismo'.
O sabor do guisado chileno leva-o a tornar-se escritor de guias gastronómicos de países ditatoriais. O seu maior sucesso foi Adie-se a Revolução Que Estou a Fazer a Digestão.
Contou com sete edições em território nacional e uma nas Berlengas, sendo traduzido para oito línguas: castelhano, francês, surinamês, quíchua, catalão, coreano, língua dos P's e português adaptado a ciciosos.
Segundo lugar no Prémio Portugal Telecom, ficando atrás do escritor brasileiro Vasco Prazeiroso (descendente da tribo Kambeba), para o qual já havia perdido no ano anterior o Prémio José Saramago.
- Variações em Fá Sustenido do Verbo Fornicar (2017), contos
Contou com duas edições antes de 2025 e treze após essa data. Não foi traduzido para qualquer língua, apenas adoptado em forma de folhetim nas escolas básicas do Estado americano do Texas, pois o desenho citado ilustrava para os texanos aquilo que os colonos fizeram à etnia de Vasco Prazeiroso.
Recebeu a chave da cidade de El Paso, por serviços prestados ao Estado do Texas, na categoria Primeira Metáfora Compreendida e Assimilada Sem Ter Que Sacar do Revólver, numa cerimónia que culminou com oitocentas rajadas de metralhadora e apenas cinco mortos.
(continua a continuar aqui)
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Clube Hipster Joyceniano
No dia 16 de Junho de 1904, doze amigos tiveram a felicidade de acompanhar a inspiradora aventura de Leopold Bloom.
A partir daí, reúnem-se em Dublin todos os anos, no mesmo dia, para relembrar e celebrar a elevação de uma pessoa banal a herói, que culmina em apoteose um dia banal.
Esta celebração atingiu o auge em 1910, pois conjugou Bloom e a sobrevivência à passagem do cometa Halley, facto que permitiu manter ébrios os doze amigos quase um mês inteiro.
Tudo se altera com a publicação de Ulysses, por James Joyce, em 1922. Sean, Ryan, Sean, Sean, Sean, Sean, Roisin, Erin, Ciara, Sean, Ryan e Sean não queriam acreditar no que acabavam de ler. Bem, nem todos. Sean, Ryan, Sean, Erin e Ciara ficaram apenas indignados por não perceberem o que estavam a ler. A incredulidade de Sean só chegou após o irmão Sean lhe ter explicado o que havia lido.
A questão prendia-se no tempo e no espaço: no tempo, pois o livro retratava apenas dezoito das vinte horas da epopeia de Bloom, descurando as duas horas finais que dão significado ao dia e aos dias que se sucedem; no espaço, pois Joyce como que coloca Bloom sozinho em Dublin, deixando vazio o espaço que ocuparam os doze amigos.
Pior: onde estava Joyce no 16 de Junho de 1904?
Acabava de sair de Dublin e era conhecido na altura por 'O Pirata de Zurique'. Ele não havia assistido a nada.
Os doze amigos reúnem-se para decidir o que fazer e escrevem um memorando em que acusam Joyce de ter transformado o que poderia ser o novo Novo Testamento numa nova Odisseia, completamente desfasada da realidade.
Joyce preferiu ser escritor em vez de evangelista.
O memorando não passou de uma nota de rodapé, cada vez mais ténue, com a emergência da nova celebração dedicada a um livro - Bloomsday.
Nas únicas palavras que Joyce dirigiu aos doze amigos, em forma de missiva, dizia que queria que o mundo girasse ao contrário através da sua escrita e pretendia que uma celebração religiosa se tornasse numa celebração pagã, ao contrário de todas as outras até então.
O desvario foi completo e os doze amigos deixaram o país.
Voltamos a ouvir falar deles apenas em 27 de Março de 1997. Não de todos, pois Sean, Sean, Ryan, Sean e Ciara já haviam perecido. Os outros, com excepção de Sean, acabavam de ser noticiados como mortos.
O mundo soube desta história pelo Larry King (CNN), numa entrevista a Sean, da qual passamos a destacar as principais passagens:
Larry King (LK): O que sentiu quando ouviu esta notícia que acabámos de passar nesta peça?
Sean (Sean): Fico triste pela perda de amigos mas sobretudo pela sua vida em vão.
LK: Em vão, como assim?
Sean: Em vão porque acreditaram no verdadeiro, apenas escolheram o meio errado.
LK: Pode explicitar?
Sean explica a verdadeira história de Leopold Bloom.
Sean: Depois da publicação do infâme livro ainda duvidámos das nossas crenças, mas chegámos à conclusão que - por votação e consequente maioria de dois terços - estávamos correctos. Tínhamos esquecido um pequeno grande pormenor.
LK: Que é?
Sean: A passagem do cometa Halley. Todos nós sentimos que, nesse ano de 1910, a celebração foi diferente, para melhor, e que depois dessa entrou numa espécie de decadência. Como se o espírito de Bloom se afastasse de nós, se desvanecesse. E só conseguimos perceber isso em 1954.
LK: Que se passou em 54?
Sean: Todos os dublinenses viram o que se passou nas horas finais de Bloom, naquelas que o anti-bloomista Joyce se recusou tratar. Aquela luz pressagiava algo. E em 54 concluímos que Bloom seguiu com o cometa. Cabía-nos segui-lo. Mas em 1910 ainda não nos tínhamos apercebido.
LK: Foi aí que começaram a preparar-se para a passagem de Halley em 1985. Por que não seguiram nesse ano?
Sean: Acontece que a Roisin era crente em Maradona e achou que, no ano seguinte, ele iria humilhar os imperialistas dos ingleses, o que veio a acontecer. Bloom no céu, Maradona e Burruchaga na terra. Valeu o adiamento.
LK: Então, mas a próxima passagem de Halley só ocorreria em 28 de Julho de 2061. O que passou pela vossa cabeça?
Sean: Eu sei. Em 79, Sean conheceu Marshal Applewhite, que lhe garantiu que se podia chegar a Bloom não só por Halley mas também por Hale-Bopp. Ele defendia que a rede de cometas funciona como as redes de transportes, com paragens comuns. Dessa forma, podíamos adiar 1985 para 1997, que era quando passava Hale-Bopp.
LK: Então foi por isso que foram encontrados ontem?
Sean: Sim, pobres coitados. Conhecem a verdade mas apanham o cometa errado. Nunca vão conhecer Bloom.
LK: O Sean, então, deixou de acreditar. É isso?
Sean: Não, de todo. Acredito é que só pelo Halley se chega a Bloom.
LK: Mas em 2061 terá 181 anos. Correcto?
Sean: Sim, tranquilo. Ando de bicicleta diariamente, evito os fritos e tomo um sumo de mangostão todos os dias. Em 2061, lá estarei.
A partir daí, reúnem-se em Dublin todos os anos, no mesmo dia, para relembrar e celebrar a elevação de uma pessoa banal a herói, que culmina em apoteose um dia banal.
Esta celebração atingiu o auge em 1910, pois conjugou Bloom e a sobrevivência à passagem do cometa Halley, facto que permitiu manter ébrios os doze amigos quase um mês inteiro.
Tudo se altera com a publicação de Ulysses, por James Joyce, em 1922. Sean, Ryan, Sean, Sean, Sean, Sean, Roisin, Erin, Ciara, Sean, Ryan e Sean não queriam acreditar no que acabavam de ler. Bem, nem todos. Sean, Ryan, Sean, Erin e Ciara ficaram apenas indignados por não perceberem o que estavam a ler. A incredulidade de Sean só chegou após o irmão Sean lhe ter explicado o que havia lido.
A questão prendia-se no tempo e no espaço: no tempo, pois o livro retratava apenas dezoito das vinte horas da epopeia de Bloom, descurando as duas horas finais que dão significado ao dia e aos dias que se sucedem; no espaço, pois Joyce como que coloca Bloom sozinho em Dublin, deixando vazio o espaço que ocuparam os doze amigos.
Pior: onde estava Joyce no 16 de Junho de 1904?
Acabava de sair de Dublin e era conhecido na altura por 'O Pirata de Zurique'. Ele não havia assistido a nada.
Os doze amigos reúnem-se para decidir o que fazer e escrevem um memorando em que acusam Joyce de ter transformado o que poderia ser o novo Novo Testamento numa nova Odisseia, completamente desfasada da realidade.
Joyce preferiu ser escritor em vez de evangelista.
O memorando não passou de uma nota de rodapé, cada vez mais ténue, com a emergência da nova celebração dedicada a um livro - Bloomsday.
Nas únicas palavras que Joyce dirigiu aos doze amigos, em forma de missiva, dizia que queria que o mundo girasse ao contrário através da sua escrita e pretendia que uma celebração religiosa se tornasse numa celebração pagã, ao contrário de todas as outras até então.
O desvario foi completo e os doze amigos deixaram o país.
Voltamos a ouvir falar deles apenas em 27 de Março de 1997. Não de todos, pois Sean, Sean, Ryan, Sean e Ciara já haviam perecido. Os outros, com excepção de Sean, acabavam de ser noticiados como mortos.
O mundo soube desta história pelo Larry King (CNN), numa entrevista a Sean, da qual passamos a destacar as principais passagens:
Larry King (LK): O que sentiu quando ouviu esta notícia que acabámos de passar nesta peça?
Sean (Sean): Fico triste pela perda de amigos mas sobretudo pela sua vida em vão.
LK: Em vão, como assim?
Sean: Em vão porque acreditaram no verdadeiro, apenas escolheram o meio errado.
LK: Pode explicitar?
Sean explica a verdadeira história de Leopold Bloom.
Sean: Depois da publicação do infâme livro ainda duvidámos das nossas crenças, mas chegámos à conclusão que - por votação e consequente maioria de dois terços - estávamos correctos. Tínhamos esquecido um pequeno grande pormenor.
LK: Que é?
Sean: A passagem do cometa Halley. Todos nós sentimos que, nesse ano de 1910, a celebração foi diferente, para melhor, e que depois dessa entrou numa espécie de decadência. Como se o espírito de Bloom se afastasse de nós, se desvanecesse. E só conseguimos perceber isso em 1954.
LK: Que se passou em 54?
Sean: Todos os dublinenses viram o que se passou nas horas finais de Bloom, naquelas que o anti-bloomista Joyce se recusou tratar. Aquela luz pressagiava algo. E em 54 concluímos que Bloom seguiu com o cometa. Cabía-nos segui-lo. Mas em 1910 ainda não nos tínhamos apercebido.
LK: Foi aí que começaram a preparar-se para a passagem de Halley em 1985. Por que não seguiram nesse ano?
Sean: Acontece que a Roisin era crente em Maradona e achou que, no ano seguinte, ele iria humilhar os imperialistas dos ingleses, o que veio a acontecer. Bloom no céu, Maradona e Burruchaga na terra. Valeu o adiamento.
LK: Então, mas a próxima passagem de Halley só ocorreria em 28 de Julho de 2061. O que passou pela vossa cabeça?
Sean: Eu sei. Em 79, Sean conheceu Marshal Applewhite, que lhe garantiu que se podia chegar a Bloom não só por Halley mas também por Hale-Bopp. Ele defendia que a rede de cometas funciona como as redes de transportes, com paragens comuns. Dessa forma, podíamos adiar 1985 para 1997, que era quando passava Hale-Bopp.
LK: Então foi por isso que foram encontrados ontem?
Sean: Sim, pobres coitados. Conhecem a verdade mas apanham o cometa errado. Nunca vão conhecer Bloom.
LK: O Sean, então, deixou de acreditar. É isso?
Sean: Não, de todo. Acredito é que só pelo Halley se chega a Bloom.
LK: Mas em 2061 terá 181 anos. Correcto?
Sean: Sim, tranquilo. Ando de bicicleta diariamente, evito os fritos e tomo um sumo de mangostão todos os dias. Em 2061, lá estarei.
Subscrever:
Mensagens (Atom)