Alexander Rüstow é o elo perdido. Ou não.
Não deve ser, pois não deixou descendência.
O quê? Deixou! Então descurou a educação dos filhos.
Alexander Rüstow, forjador alemão, apoderou-se do estado natural do mundo. Foi fanfarrão. Despersonalizou o Estado naquilo que personaliza originalmente os nasciturnos. O que se pretende dizer, como é óbvio, é que plasmou o termo 'neoliberalismo'.
O que pretendeu Alexander Rüstow não foi original, pois a nova ideia implicava parapsicologia: implicava regressão.
Está provado que o capitalismo é um estado selvagem. Por quem? Por várias pessoas que citarão este artigo depois de concordarem efusivamente e, inclusive, se indignarem prontamente (com laivos de fúria) em sede própria: normalmente no Facebook.
O capitalismo é um estado selvagem.
Quando vou a casa da minha irmã, o meu filho olha para os brinquedos do primo e diz: "É meu!"
Quando ingressa no infantário, o meu filho olha para os brinquedos expostos e diz: "É meu!" (São vários os brinquedos mas ele desconhece ainda o plural, porque é um pouco estúpido. O pediatra diz que está no estado normal de evolução verbal, mas o pediatra é estúpido).
O que sucede é que perante objectos que não constam no seu catálogo, a criança mostra naturalmente uma apetência pela ditadura da propriedade privada (embrulha, John Locke).
A base do capitalismo está na propriedade privada.
As crianças só conhecem a propriedade privada.
As crianças são selvagens.
Logo, o capitalismo é selvagem.
Até aqui tudo bem. Trata-se de uma ideia que não me causou qualquer comichão entre a sua nascença, em 1938, e 1990.
Nesse ano, uma calamidade assolou o mundo e impeliu-me, primeiro, a pensar várias vezes ao dia (até aqui só o fazia às 2ªs entre as 15 e as 16) e, depois, a intervir. Havia que combater o capitalismo, esse estado selvagem.
Em 1990, a BMG (infâme) lança o seu primeiro disco de uma banda portuguesa, intitulado "Desalinhados". A banda que actuaria nesse ano perante 50 000 pessoas, na primeira parte da Tina Turner, esbardalhava nesse álbum uma música dos Roxy Music e dava a conhecer-se com o tema "Nasce Selvagem". O seu nome: Delfins.
Nesse ano, tornei-me colectivista por oposição aos Delfins. Por inerência, por oposição ao capitalismo selvagem.
Ora, se é verdade que a canalha quer tudo só para si, também é verdade que pais e educadores combatem naturalmente a ideia inata de propriedade privada, com uma educação assente em fraternidade e colectividade.
"- Anda lá, Mário Miguel, empresta lá a barbie à Rafaela. Também gostas que ela te empreste os barriguitas, não gostas?" (Era escusado esse comentário, mas o meu filho tem os brinquedos que quer e usa sempre cuecas com o Pluto desenhado, pois acha piada que o cão lhe possa comer a salsicha durante a noite - têm cá uma imaginação, estes malandros!)
Serve esta ideia para mostrar que a conversão do estado selvagem para o civilizado ocorre pela educação. A educação como ritual de passagem entre capitalista e colectivista: entre idiota egoísta e lindo menino.
Se os pais combatem o egoísmo, por que razão aceitamos que nos digam que é bom - que é normal - ser um adulto egoista?
Por que razão se diz que existe evolução genética, mas não existe evolução do meio?
Para quê haver escola, se esta é um mero oásis entre estado selvagem pré-escolar e regressão ao estado selvagem pós-escolar?
Façamos como Alexander Rüstow e não eduquemos as nossas crianças, mantenhamo-las no estado natural.
Melhor: levemos o egoísmo ao extremo e não tenhamos crianças.
A BMG já não se encontra entre nós. Nem tudo são más notícias.
O mesmo não se pode dizer dos Delfins.
Tem graça, sempre pensei que o elo perdido era o Chuck Norris...
ResponderEliminarSó ao fim-de-semana.
EliminarO Alexander é nos dias úteis.
Peço Desculpa pela imprecisão.