Indignação #381: Pessoas que desejam “Tudo de bom!”
Sempre que alguém me diz “Tudo de bom” fico furioso. É que
eu não sei se existe da parte do outro desconhecimento ou deliberação. Antes
que apareça nos jornais por algum acto violento, queria explicar a razão da
fúria.
Desejar algo de bom a alguém não é mau: é bom. Agora desejar
‘tudo’ de bom não é mau: é péssimo. É relegar uma pessoa para uma monotonia de
coisas boas. Desejar ‘Bom’ a alguém é desejar mais do que ‘Suficiente’ e menos
do que ‘Muito Bom’. ‘Excelente’, nem pensar!
Ora, atribui uma classificação quem está na posse da tabela
de avaliação. E a pessoa que o faz tem na sua posse o ‘Mau’, o ‘Medíocre’, o ‘Suficiente’,
o ‘Bom’, o ‘Muito Bom’ e o ‘Excelente’. O ‘Mau’ e o ‘Medíocre’ é aquilo que é
desejado nas nossas costas, logo, é uma classificação muda para o visado.
O ‘Suficiente’ é um conceito exclusivo dos avós que, como
são doutro tempo, utilizam a expressão ‘Pelo menos’ como sinónimo de ‘Suficiente:
- Olha avó, já viste como ficou o meu coto depois do
acidente lá na fábrica?
- Pois é! Que desgraça! Pelo menos, ainda tens trabalho.
Entramos na grande questão: o ‘Tudo de Bom’. No caso das pessoas
que o fazem deliberadamente, estas gostam de classificar todos os aspectos da
nossa vida como ‘boas’. Aliás, não classificam: profetizam. Desejam que, a
partir do momento em que nos despedimos delas, a nossa vida futura tenha tudo
de bom. O ‘Tudo de Muito Bom’ ou ‘Tudo de Excelente’ reservam para elas e
hipotecam as nossas possibilidades de almejar tais propósitos.
Há momentos íntimos com a minha mulher que duram segundos
(às vezes um minuto inteiro) que eu considero excelentes e que, segundo ela,
são apenas medíocres. Ok, a média dá bom, mas eu acho que ela está a mentir.
Existe também quem emprega a expressão com desconhecimento.
Pensa que ‘Bom’ é o máximo que se pode atribuir. Veja-se o que diz um amigo
meu:
- Epá! Olha só para aquela. É toda ‘Boa’!
Eu replico:
- Calma lá, Ricardo! Toda, não! Tem uns bons quadris, quanto
muito. Os lábios são suficientes. A amplitude dos ombros é medíocre. Já as
glândulas mamárias são excelentes.
- Vai-te f*****, Bruno!
Cá está! As pessoas reagem mal à sua ignorância, ao
desconhecimento do problema.
O que proponho é o seguinte: sejam específicos e sinceros.
Eis alguns exemplos, quando se despedem de amigos:
- Gostei razoavelmente de te ver. Desejo-te três coisas
suficientes para a tua vida profissional e uma boa vida em duas variantes ao
lado da tua esposa medíocre.
- Acho excelente a ideia de emigrares. Seria péssimo para
mim ter que fazer conversa sempre que nos encontrássemos. É que conhecemo-nos mediocremente.
- Até breve! Olha: 27% de coisas boas para os teus filhos,
13% de coisas suficientes para a tua relação e 8% de coisas péssimas para o teu
trabalho.
Como eu não sei quem leu isto e fazendo médias e desvios
padrões, desejo-vos: Tudo de bom!
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